Entrevista: Mercado apresenta recuperação rápida, mas incertezas persistem

Em entrevista exclusiva ao Blog Abrapp em Foco, o Diretor Financeiro da Fundação copel, José Carlos Lakoski (foto) mostra a forte recuperação das carteiras de ativos e a perspectiva de terminar o ano sem déficit em seus planos. O maior plano da entidade, o Plano Unificado, registra retorno positivo de 3,3% no ano, acima da meta atuarial de 2,78%, segundo dados até 15 de julho, com preservação da situação superavitária do final do ano passado.

Já o plano de contribuição variável (CV) registrou um déficit de R$ 200 milhões no auge da crise, mas já reverteu metade desse valor com a recuperação dos últimos três meses. a previsão é que o plano termine sem nenhum déficit até o final ano. Nesse sentido, o dirigente afirma que no caso da Fundação Copel, não haverá necessidade de nenhum equacionamento de déficit para o próximo ano. Apesar da forte recuperação da Bolsa e das carteiras da fundação, Lakoski demonstra que as incertezas persistem na economia e na agenda de reformas do governo, e indica uma postura mais cautelosa na alocação de recursos para os próximos meses.

Leia a seguir a entrevista na íntegra:

Acima da meta atuarial
Nosso plano maior, que representa cerca de metade de nosso patrimônio total, de R$ 12 bilhões, está com uma rentabilidade positiva no ano de 3,3% até 15 de julho. A queda provocada com a crise decorrente da pandemia de COVID-19 em março tinha sido de apenas 1% negativo. E já conseguimos reverter a queda e, mais que isso, estamos superando a meta atuarial. Atualmente a meta está marcando 2,78%, que é de 5,77% ao ano mais o IPCA.

Preservação do superávit
Esse é o Plano Unificado, inteiramente de benefício definido, que está fechado para novas adesões. É um plano com uma estratégia bem definida, com a maior parte dos títulos marcados na curva. É um plano que tem superávit de cerca de R$ 700 milhões. Esse plano não nos preocupa. Conseguimos uma boa recuperação e, por isso, o superávit foi preservado.

Plano de contribuição variável
Já o Plano III, de contribuição variável, tem uma parte de benefício definido e outra, de contribuição definida. A parte BD deste plano teve uma queda de 6% em março, mas também já recuperou boa parte da perda. Agora está em 0,80% negativo. Ou seja, estamos praticamente zerados na rentabilidade. É um plano com a maior parte dos títulos marcados a mercado, que tem Bolsa, multimercados e FIPs [Fundos de Investimentos em Participações]. Então, sofreu um pouco mais, porém, teve uma recuperação surpreendente.

Reversão do déficit
O plano III fechou 2019 com um superávit de R$ 70 milhões. Quando veio o impacto da crise, no auge da crise, registramos um déficit de R$ 200 milhões. Mas já revertemos cerca de metade desse déficit, ou seja, já recuperamos R$ 100 milhões. é um plano que tem uma meta atuarial de 4,5% ao ano mais inflação. Fizemos várias projeções de curto, médio e longo prazo que a Previc nos pediu e, em todos os cenários, o plano se mostra equilibrado em termos de liquidez e solvência. É que realmente houve um evento de forte estresse em março, mas podemos dizer que o plano suportou muito bem. Acredito que vamos reverter o déficit até final do ano e possivelmente fecharemos com superávit de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões.

Regras de solvência
Até final do ano, vamos voltar à normalidade no plano CV. É um plano que aguentou bem a crise, assim como os demais. Temos visto a discussão com a Previc e Conselho Nacional de Previdência Complementar, da possibilidade de alteração das regras de solvência excepcionalmente para este ano, mas no nosso caso, não haverá necessidade. A menos que aconteça algum outro evento muito grave na economia, o que não acreditamos, iremos reverter o déficit.

Recuperação forte
A recuperação dos ativos veio bastante forte logo após o impacto inicial da crise e nos surpreendeu. Houve uma forte recuperação da Bolsa, que voltou a ultrapassar o patamar de 100 mil pontos do Ibovespa. Houve também o fechamento das taxas dos títulos públicos de maior prazo que nos beneficiou. Então, praticamente zeramos as perdas da parte de benefício definido de nossos planos. Até a parte de contribuição definida, que foi mais impactado, com queda de 11% negativos em março, agora está marcando menos 1%. Praticamente recuperamos as perdas, sem realizar nenhum movimento brusco nas alocações.


Plano família
O novo plano família da Fundação, que tem cerca de 4 mil participantes, também apresentou boa recuperação. Após uma queda de mais de 12% negativos em março, agora está caindo apenas 2,70%. Esperamos que todas as perdas registradas até agora sejam recuperadas até o final do ano.

Incertezas no horizonte
Apesar da recuperação dos ativos, ainda verificamos incertezas na economia, quanto a recuperação da atividade macroeconômica nos próximos meses. Temos conversado muitos com os economistas e gestores e ainda pairam incertezas no mercado. Apesar da recuperação da Bolsa no curto prazo, com um certo otimismo exagerado, mas a economia real deve sofrer bastante ainda, principalmente quando acontecer o corte dos auxílios emergenciais do governo. Quando os recursos deixarem de ser injetados pelo governo na economia, daqui a 4 ou 5 meses, teremos de ver como a economia reagirá.

Cautela
Estamos com uma postura mais prudente, com maior preocupação com a economia, com o que virá daqui uns 5 meses. Não estamos muito entusiasmados com as perspectivas para a economia real. Acho que terminarmos o ano em situação de neutralidade, ou seja, não haverá perdas, mas também não haverá grandes ganhos.

Sem movimentos bruscos
Não fizemos nenhum movimento maior nos últimos meses, mas aproveitamos algumas oportunidades. Compramos um pouco de títulos públicos quando houve abertura das taxas. Agora estamos mais prudentes, mas cautelosos. Estávamos em um processo de seleção de gestores de fundos imobiliários, mas suspendemos esse processo. O mesmo aconteceu com gestores de fundos no exterior. Estamos aguardando um pouco para conseguir enxergar melhor as perspectivas para esses mercados.

Rebalanceamento de Bolsa
Quando a Bolsa caiu cerca de 45% em março, em seguida, compramos um pouco mais de ações. Nossa carteira da parte de contribuição definida tinha caído de 15% para 11% do patrimônio. Então, aumentamos entre 2% a 3% a mais para nos reaproximar do patamar definida na política de investimentos. E agora com a valorização da Bolsa, já voltamos ao alvo. E não pretendemos alocar mais em Bolsa neste momento. O Ibovespa a 100 mil pontos achamos que está bem precificado.

Agenda de reformas
A recuperação foi rápida, mas não estamos muito otimistas com as perspectivas daqui alguns meses. O nível de endividamento do país está alto. O investidor estrangeiro não está dando sinais que voltará com força. Temos de avaliar o avanço da agenda de reformas do governo. Ainda vemos muitas incertezas, por isso, estamos com uma postura mais cautelosa.

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