Recentemente, a Fundação de Previdência Complementar do Estado de São Paulo (Prevcom) passou por uma mudança em sua gestão a partir da entrada de novos membros na Diretoria-Executiva. À frente da presidência da entidade, Sylvio Eugenio de Araujo Medeiros assume a responsabilidade de liderar um dos maiores fundos de previdência complementar para servidores públicos do país, que atualmente acumula R$ 3,73 bilhões em recursos administrados de 53 mil participantes, em nove planos exclusivos paras os estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, para a capital paulista, além de ter 26 municípios conveniados em seu fundo multipatrocinado.
Com ampla experiência no setor, o economista assumiu o comando da entidade em agosto, para um mandato de 4 anos, após indicação da Secretaria de Gestão e Governo Digital (SGGD). Medeiros atuava, até então, na assessoria da presidência do Instituto de Previdência do Município de São Paulo (Iprem).
Ele teve passagem pelo Ministério da Economia, entre 2019 e 2023, como assessor e subsecretário nas áreas de trabalho, governança e políticas públicas, e presidiu o Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Natal (RN). No Banco do Brasil, entre os muitos cargos assumidos, Medeiros foi gerente das áreas de capacitação técnica, relacionamento, governança de capacitação de recursos e estratégia, e assessor de tesouraria.
Na Prevcom, o novo presidente já formulou, junto à nova diretoria, o planejamento da entidade com o propósito de levar prosperidade aos participantes e seus familiares e contribuir com o equilíbrio atuarial dos patrocinadores. E uma das ferramentas que ajudará a fundação a atingir esse objetivo será o uso da tecnologia.
A partir do desenvolvimento de soluções e sistemas cada vez mais personalizados, a Prevcom deve atuar como assessoria personalizada para auxiliar seus participantes no atingimento de seus objetivos. “Gostaríamos que a percepção do nosso segurado seja a de que a Prevcom está aderindo aos planos dele”, disse Medeiros ao Blog Abrapp em Foco.
Leia abaixo a entrevista na íntegra:
Blog Abrapp em Foco: Conte sobre sua trajetória profissional antes de assumir a presidência da Prevcom.
Sylvio Medeiros: Sou funcionário de carreira do Banco do Brasil e em um dado momento fui cedido pela prefeitura de Natal para ocupar a presidência do Instituto de Previdência dos Servidores do Município. Em seguida, fui trabalhar na área de estratégia do segmento que atendia RPPS no Banco do Brasil. Eu já lidava com a área previdenciária, fazendo a gestão em governança da BB Previdência, e cuidava da relação da governança entre entidades, conselhos, etc. Também fui cedido à Secretaria do Trabalho e Previdência dentro do Ministério da Economia, onde permaneci por 4 anos. Dali, fui diretamente convidado para assessorar o Iprem.
Blog Abrapp em Foco: Quais os desafios da nova diretoria na atual gestão?
Sylvio Medeiros: A fundação passou por uma grande alteração. Toda a diretoria, com exceção a de investimentos, que continua com Francis Nascimento, foi renovada. Atualmente, a diretoria de Administração é conduzida por Vanessa Pacheco de Souza; a diretoria de Relacionamento Institucional, por Ugo Gabriel Barboza Garcia, e temos também uma nova diretoria, de tecnologia, com Alessandro Roosevelt à frente. E hoje saiu no Diário Oficial da União a cessão de André Rodrigues Veras, que atuava no INSS, para exercer o cargo de Diretor de Seguridade.
Estamos planejando um descasamento desses mandatos para que, no futuro, não tenha essa questão de continuidade. Mas o time é excepcional, com pessoas de mercado, comprometidas e que podem trazer para nossos participantes as melhorias que temos planejado.
Blog Abrapp em Foco: Quais melhorias a serem implementadas na entidade pela nova diretoria?
Sylvio Medeiros: Recebemos a Prevcom com muito respeito. Não é fácil tirar uma entidade do zero e trazer ela ao patamar em que ela está, como foi feito pela gestão anterior, e cabe a nós dar continuidade a essa trajetória. Assumimos uma entidade que está entre as principais do país e esperamos que ela cresça à altura. Nosso planejamento foi totalmente renovado e conduzimos ele internamente, redesenhando nossa missão, visão e valores.
Adotamos uma abordagem de propósito, pois torna claro para todo mundo que atua na entidade se suas ações estão alinhadas ou não com esse propósito, que é levar prosperidade para nossos segurados e seus familiares e contribuir com o equilíbrio atuarial dos patrocinadores. O sentido do trabalho é fundamental para deixar as pessoas engajadas.
Também queremos marcar a gestão da Prevcom com níveis de excelência, e para isso atingiremos Selos da Abrapp e ICSS com a manutenção de elevação de níveis destes e de outros selos. Faremos uma transformação digital, que será capitaneada pelo Alessandro, e nossa missão é chegar em um momento em que cada um que abre o aplicativo da Prevcom tenha uma experiência personalizada. Outro objetivo é que queremos nos transformar em um dos melhores lugares para se trabalhar.
Blog Abrapp em Foco: Como deve ser a atuação da Diretoria de Tecnologia para expansão e melhoria de processos da entidade?
Sylvio Medeiros: Para esse ano, nosso orçamento, que é uma peça indutora do planejamento, foi base zero, e o refizemos incluindo os projetos de tecnologia, já registrando uma economia R$ 2,3 milhões para este ano a partir da revisão total de nosso contratos e, principalmente parceria com a Prodesp (Empresa de Informática do Governo do Estado de São Paulo). Nossos sistemas estarão hospedados com eles e teremos apoio no desenvolvimento de software.
A Prodesp será um elemento de diferenciação para nossos patrocinadores, e municípios poderão contar com esses serviços em condições diferenciadas como o estado de São Paulo já conta. Todos os nossos processos estão sendo integrados e os sistemas, continuados a partir de conexões para que a gente tenha informações sobre portabilidade e dashboards de resultados dos planos disponíveis online.
Blog Abrapp em Foco: Quais estratégias devem ser adotadas para atrair novos servidores e municípios à Prevcom?
Sylvio Medeiros: Tenho que encantar não só o segurado, mas também o patrocinador. Então, estamos oferecendo incentivos específicos para que o patrocinador faça adesão aos novos planos. Por exemplo, facilitando processos de entrada, criando elementos que tragam para o patrocinador uma visão que a Prevcom agrega valor, como as soluções de tecnologia.
Para os participantes, temos um CDC de re-equacionamento de dívidas, mais barato que o consignado, mas que dependerá do nível de reservas já constituídos. Com isso, esperamos alcançar um número maior de servidores, inclusive os que não ganham acima do teto do INSS. A ideia é trazer o cidadão a uma cultura de poupança o ajudando a re-equacionar suas finanças.
Também acreditamos que as forças de segurança de estados e municípios são mal assistidas e temos um desenho específico desse público, que geralmente está fora da previdência.
Além disso, estamos marcando reuniões com municípios e estados onde já fazemos gestão de plano para parceria com tribunais de conta em uma ação conjunta para que os municípios cultuem seus processos.
Blog Abrapp em Foco: Hoje falamos muito da importância de atrair mais pessoas para a previdência complementar, inclusive ampliar a oferta de planos para familiares dos atuais participantes. A Prevcom também trabalha nesse sentido?
Sylvio Medeiros: A ideia é fazer um plano família no próximo ano, e estamos olhando a Abrapp como uma parceira de um desses planos. Queremos construir de maneira abrangente, com menos custo possível. Como estamos em um processo maduro do nosso PGA, talvez a gente consiga criá-lo sem a taxa de carregamento. Se isso acontecer, será um diferencial.
A Prevcom está bem posicionada para crescer dentro do segmento e temos a vontade técnica e política de sermos responsáveis pela implementação do regime complementar nos entes federativos que ainda não implementaram.
Blog Abrapp em Foco: Em termos de educação previdenciária, como a Prevcom deve atuar nesta nova gestão?
Sylvio Medeiros: Temos ações já em vigor. As pessoas despertam muito tarde para essa questão, amadurecem tarde financeiramente. O brasileiro poupa pouco culturalmente, nossa renda não é alta e o gasto é mais para sobrevivência. Temos ideias, entre elas é utilizar o conceito do segmento bancário de open finance, onde a partir de um único banco é possível acompanhar a movimentação de todos os outros. Temos que fazer algo similar dentro do universo previdenciário. Isso envolve a entrega na ponta e como o participante pode ser assistido nesse processo, e internamente, criar essa estrutura.
Do ponto de vista da entrega final, queremos oferecer mais diversidade de serviços no aplicativo inclusive uma carteira para movimentação financeira e assim centralizar as movimentações bancárias e de investimentos, com uma assessoria personalizada, uma Inteligência Artifical que diz algo relacionado à meta de aposentadoria, quanto falta para alcançar, se deve contribuir mais, etc.
Do ponto de vista interno, estamos reestruturando nossas carteiras de investimento. Se fossemos servidores do mesmo ente, nossos recursos estariam na mesma carteira de investimento. Mais do que adaptar os nossos perfis de risco, devemos ter uma estratégia temporal. Nosso objetivo é complementar a aposentadoria, então nosso foco é entender quando cada um vai se aposentar para avaliar a quem permite investir com mais ou menos risco.
Embaixo dessa estratégia, teremos o perfil de risco. Poderemos ter metas atuariais diferentes para esses grupos, estruturar carteiras pró-estratégia temporal. Isso envolve trabalho de TI e revisão regulatória. Temos uma alteração de estatuto de qualquer maneira, e estamos avaliando também a possibilidade de ter uma meta de referência ponderada. Gostaríamos que a percepção do nosso participante seja a de que é a Prevcom que está aderindo aos seus planos.
Blog Abrapp em Foco: As EFPC estão passando pelo período de aprovação das políticas de investimento. O que deve mudar para o próximo ano?
Sylvio Medeiros: Aprovamos nossa política e a ideia é manter basicamente o que a gente já tem, com alguma expansão em investimentos no exterior. Em um cenário interno com deterioração, é importante reservar algo pro exterior, para ter um contrapeso. Também devemos ter investimentos em fundos de participação e FIDCs. Para renda variável, achamos que é um bom momento de entrada, mas ainda não sabemos quando. Em termos estruturais, a Bolsa está entregando um prêmio bastante atrativo para os próximos 5 anos. Em um dado momento, entendemos que vale a pena reforçar as posições em renda variável, mas não agora.
Com essa taxa de juros em ascensão, mesmo concentrando tudo em renda fixa, a marcação a mercado acaba gerando resultados negativos. Mesmo concentrando os investimentos na renda fixa, não teremos o desenho da meta de referência por vezes atingido, embora comprando papéis com o compromisso de mantê-los a vencimento.
Estamos elaborando nota técnica para apresentar à Abrapp para que as EFPC possam voltar a marcar títulos na curva. O principal é a entidade demonstrar a intenção, na política de investimentos, de marcar na curva determinado percentual. O que determina uma eventual transferência de renda ou situação que comprometa o resultado dos participantes é vender o título. Se houver uma boa política de gestão de liquidez, não precisa vender. O que a gente defende é tratar uma política de liquidez e riscos de maneira adequada para poder marcar na curva.
Blog Abrapp em Foco: Como a Abrapp, como representante do setor, tem ajudado nos principais pleitos do segmento e quais as expectativas de atuação junto à associação daqui pra frente, principalmente no que diz respeito à previdência dos servidores públicos?
Sylvio Medeiros: A gente tem a intenção de marcar uma presença forte da Prevcom na Abrapp, seja institucionalmente ou no dia a dia, como estar presente na chapa para compor o Conselho. A Prevcom também reorganizou a participação nos comitês e comissões da associação.
Para além disso, o papel institucional da Abrapp é fundamental para o setor. A previdência complementar é a única saída efetiva para o Brasil. A curva demográfica brasileira não permite a continuidade do regime de repartição simples. Mesmo os Regimes Próprios de Previdência Social que já fizeram a segregação de massa têm uma dificuldade estrutural atuarial. E na última instância, é o estado que cobre o déficit, e essa capacidade está cada vez mais reduzida.
O mundo não foi moldado para um decréscimo de população. Se tiver menos gente entrando no mercado de trabalho, a população economicamente ativa tende a se reduzir. Se não é pela previdência complementar, que é capaz de gerar grandes reservas, não teremos condições de atingir a sustentabilidade. A Abrapp tem um papel relevante, que é garantir higidez e defesa institucional de um setor que é primordial para a solução das questões demográficas do país.
