Entrevista: Real Grandeza reforça controle de risco e compliance para navegar em novo cenário de investimentos

Sergio Wilson Ferraz Fontes_2

A Fundação Real Grandeza vem reforçando as funções de controle de risco e compliance para se adaptar ao novo ambiente de juros baixos e maior volatilidade da economia. O movimento já havia iniciado bem antes da pandemia, mas com o advento da crise sanitária e seus reflexos sobre os investimentos, a entidade acentuou essa tendência com a revisão e utilização de seus manuais de melhores práticas de governança, como mostra Sérgio Wilson Fontes, Diretor Presidente da Fundação Real Grandeza, em entrevista exclusiva ao Blog Abrapp em Foco.

O resultado é que a fundação conseguiu atravessar o ano de 2020 sem grandes sobressaltos, atingindo resultados satisfatórios em suas carteiras de investimentos. O plano de benefício definido obteve retorno de 9,2% e manteve situação superavitária em R$ 76 milhões. Já o plano de contribuição definida atingiu rentabilidade de 5,6%, considerado um resultado positivo em virtude das oscilações do mercado.

Ocupando também a posição de Diretor Executivo da Abrapp, responsável pelo acompanhamento da Comissão Técnica de Investimentos da associação, Sérgio Wilson acentua a importância do programa de Autorregulação do sistema Abrapp, Sindapp e ICSS. Leia a entrevista a seguir na íntegra:

Novo patamar dos juros

Tudo começou antes da pandemia com um novo patamar de juros muito baixos no mundo e no Brasil. São os juros mais baixos da história em nosso país. E agora mesmo que a Selic volte a aumentar, que retorne para o patamar entre 5% ou 6%, não irá retornar aos níveis anteriores. Os juros muito baixos tem efeito no ativo e também no passivo. O passivo dos planos das EFPC continua em níveis médios altos. Então, temos um problema duplo.

Alocações de risco

Surge a necessidade de maiores ganhos e a solução passa por uma maior diversificação dos ativos. Com isso, teremos de correr mais riscos. Antes estávamos absolutamente concentrados em títulos públicos, com baixa exposição em Bolsa. E isso está mudando rapidamente, todos os fundos estão se mexendo.

Orientação da Previc

A maior exposição ao risco exige um aprimoramento contínuo no controle e na governança dos investimentos. O controle de riscos ganha mais relevância em todas as fundações, que estão investindo nessa função. A própria Previc, em seu Relatório de Estabilidade Previdenciária [REP], tem dito textualmente, que os fundos deverão se expor a ativos de maior risco, pois a manutenção da concentração em títulos públicos não será suficiente para a superação das metas atuariais. Até o próprio órgão supervisor que está dizendo isso.

Identificação e monitoramento de riscos

Na Real Grandeza já vínhamos fortalecendo todos os processos de identificação e monitoramento de riscos. Não vemos outra alternativa que não seja o constante aprimoramento. A Resolução 4.661 [CMN de 2018] já indica a exigência de identificar, controlar e avaliar os riscos. Contratamos uma consultoria externa para nos auxiliar na análise de riscos em todos os processos de governança, não apenas nos investimentos.

Nova profissional

Reforçamos a área de controle de risco e compliance com a contratação de uma nova profissional. É uma área específica segregada da equipe de investimentos. Quem assumiu essa área é a nova gerente Adriana Barreto Rodrigues. Contamos também com a consultoria de um escritório de advocacia para a avaliação de riscos dos investimentos.

Regras formalizadas

Temos regras bastante formalizadas, com vários documentos que estão em constante revisão. Temos um manual para a tomada de decisões de investimentos que acabamos de rever. Temos outro manual de monitoramento que também é importante. Temos um comitê de investimentos, que tudo passa por aí. São 10 membros, sendo seis deles provenientes de indicação de eleitos.

Administrador fiduciário

Contamos também com a administração fiduciária de uma grande instituição, que desempenha a função de controladoria independente, com checagem do enquadramento e compliance das deliberações. O administrador verifica, por exemplo, o túnel de preços com parâmetros de mercado. A segurança é redobrada e qualquer falha é reportada pelo Bradesco, que realiza ainda a checagem de estresse das carteiras e cálculo do VAR, entre outras atividades. Tudo isso fornece maior garantia e segurança para a gestão dos recursos.

Diferentes manuais

Temos manuais para todas as classes de ativos. Estamos revisando agora, por exemplo, o manual de operações com participantes. Os manuais nos auxiliam também no processo de contratação de gestores externos e consultores. Agora estamos em processo de contratação de gestor para renda variável. Ou seja, temos um manual específico para a contratação de gestores.

Aperfeiçoamento dos FIPs

Ainda não estamos analisando os FIPs [Fundos de Investimentos em Participações]. Estão vedados por enquanto em nossa política de investimentos. É uma classe de ativos importante, que pode gerar prêmios maiores que a Bolsa. Porém, ainda convivemos com uma herança negativa do passado. Acho que os fundos e os gestores aprenderam bastante nos últimos anos. E agora a indústria de fundos deve vir com uma nova safra de FIPs. Estamos aguardando para ver se houve aperfeiçoamento do mercado, precisa avançar um pouco mais para que possamos voltar a olhar para o segmento.

Alocações internacionais

Já os investimentos no exterior, estamos prontos para entrar. Ainda não temos nada, mas aprovamos um limite de 5% para a política de investimentos de 2021. Já tínhamos limite de 2,5%, mas não havíamos utilizado. E agora ampliamos mais as possibilidades. Vamos estrear em 2021.

Autorregulação

Os Códigos de Autorregulação são ferramentas importantes para o sistema e as EFPC. Os códigos fornecem uma guia, uma orientação para o avanço da governança. São referências fundamentais, sem dúvida. A Real Grandeza foi a primeira fundação a obter o Selo de Autorregulação em Governança Corporativa, do sistema Abrapp, Sindapp, ICSS. O programa de autorregulação é uma verdadeira bússola para o sistema.

ALM como balizador de risco

Outra ferramenta fundamental é o ALM [Asset Liability Management], que é importante para balizar a gestão de risco. O ALM permite definir o nível de risco do portfólio vis a vis com as obrigações do passivo. Ele modula o risco que se deve correr. Um ALM bem feito, com inputs adequados, com uma boa análise de cenários é vital para a modulação do risco.

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