Durante o webinar que apresentou os resultados da pesquisa “Participação Feminina nas Entidades Fechadas de Previdência Complementar e seus planos de benefícios”, promovida pelo Ministério da Previdência Social em parceria com a Abrapp, a Funpresp-Exe e o Tesouro Nacional apresentaram projetos que visam ampliar a representatividade de mulheres em seus times internos.
Os resultados do levantamento foram apresentados em webinar realizado na última sexta-feira, dia 30 de maio, e contou com a presença de Regina Dias, Diretora de Seguridade da Funpresp-Exe, que apresentou o case do programa “Funpresp Mulher+”, criado em 2024 com o objetivo de ampliar a participação feminina e reduzir desigualdades na previdência complementar.
Ela iniciou sua fala compartilhando sua trajetória pessoal e profissional, destacando os desafios de atuar em um setor historicamente masculino e como, nesse contexto, a Funpresp-Exe identificou que, embora a previdência complementar seja especialmente importante para as mulheres – que ganham menos, vivem mais e contribuem por menos tempo –, elas se engajam menos com o tema.
Regina apontou que o público feminino é menos participativo em pesquisas, faz menos contribuições facultativas e tem menor conhecimento sobre os planos e benefícios disponíveis. Um exemplo ilustrativo mostrou que, com as mesmas condições salariais e de contribuição, uma mulher acumularia cerca de R$ 771 mil na aposentadoria, enquanto um homem acumularia R$ 889 mil, resultando em uma taxa de reposição significativamente menor para elas.
Por conta dessas disparidades, o Funpresp Mulher+ foi criado com o foco em educação financeira e previdenciária personalizada voltada exclusivamente para mulheres e conduzida por mulheres. O objetivo é reduzir a intimidação percebida pelas participantes em um ambiente considerado técnico e masculino. “Propusemos tratar as mulheres com mulheres especialistas que se aproximam delas, sabendo de previdência, dando a elas essa segurança”, disse Regina.
A diretoria apresentou a estrutura da programa, que teve duração de um mês e ofereceu:
- Plataforma exclusiva com trilha de aprendizado;
- Mentorias individuais, divididas entre temas financeiros, previdenciários ou ambos;
- Conteúdo didático em linguagem acessível, incluindo e-books em formato de storytelling;
- Diagnóstico previdenciário personalizado, com sugestões práticas como contribuição facultativa, inclusão de adicionais remuneratórios e portabilidade.
Como resultados, a entidade registrou 430 cadastros na plataforma; 371 downloads dos e-books; 149 agendamentos de mentorias (limite máximo); alta adesão e participação efetiva (quase 100 comparecimentos); NPS (Net Promoter Score) de 71, considerado excelente, com 86% de promotores.
O perfil das participantes foi, na maioria, de idade entre 40 e 49 anos, com renda de R$ 10 mil a R$ 20 mil e tempo médio de plano entre 6 e 8 anos. Regina destaca que as participantes demonstraram grande desconhecimento das regras da previdência, tanto da Funpresp quanto do regime próprio.
A ação revelou ainda uma demanda reprimida por informação e acolhimento personalizado, mas a linguagem simples e abordagem empática foram essenciais para o sucesso da iniciativa. O projeto destacou também a necessidade de ações estruturadas e contínuas para promover o engajamento feminino na previdência.
Inclusão das Mulheres no Tesouro – Viviane Silva, Secretária Adjunta do Tesouro Nacional, compartilhou um panorama abrangente sobre a presença feminina na instituição e as iniciativas voltadas à promoção da igualdade de gênero.
Viviane iniciou sua fala lembrando que, quando ingressou na graduação em Economia, apenas cinco das 30 pessoas na turma eram mulheres. Hoje, embora os números tenham melhorado na formação acadêmica, isso ainda não se reflete de forma equitativa nos espaços de poder.
Segundo dados apresentados por ela, as mulheres representam 33% da força de trabalho do Tesouro Nacional. Em termos de formação acadêmica, há equilíbrio entre homens e mulheres nos níveis de graduação, pós-graduação e mestrado. A única diferença significativa está no doutorado: 4% dos homens têm doutorado, contra 2% das mulheres.
Mas os dados mudaram ao longo dos anos. Em 2017, apenas 20% das mulheres ocupavam cargos no Tesouro, contra 35% dos homens. E, nos cargos de maior influência, a participação feminina era ainda menor: 17%. A partir de 2018, o Tesouro deu início a um trabalho mais estruturado ao firmar parceria com a ONU Mulheres e o PNUD.
Na época, foi conduzido um diagnóstico institucional sobre igualdade de gênero, e o relatório apontou recomendações importantes, como acolhimento e tratamento de denúncias de assédio; transparência e equidade nos processos seletivos; e formação específica para mulheres em liderança.
A partir de 2023, com Viviane na função de secretária adjunta, diversas ações foram implementadas para acelerar a inclusão, entre elas a Portaria nº 1689/2023, que:
- Criou uma política afirmativa nos processos seletivos de cargos de gestão.
- Mulheres passaram a receber 10 pontos adicionais nas seleções para cargos de direção.
- Impacto imediato:
- Antes da portaria, a média de nomeações de mulheres era de 24%.
- Após a portaria, subiu para 36%.
- Em 2024, superou 50% nos cargos DS-3 e DS-4.
Atualmente, 30,4% das mulheres do Tesouro exercem algum cargo, contra 20% em 2017. E 38% das funções estratégicas (DS-4, DS-5 e DS-6) são ocupadas por mulheres, mais que o dobro de 2017.
O Tesouro também implementou o Programa de Aceleração de Experiência Executiva para Mulheres, criado em março de 2023, e que já está em seu terceiro ciclo. O objetivo é preparar mulheres para assumir cargos de liderança, e todas as participantes já ascenderam a posições de gestão, incluindo a atual coordenadora de RH, que também atua em diversidade.
Outra iniciativa foi implementada em dezembro de 2023, quando o Tesouro tornou-se o primeiro órgão público federal a aderir ao processo de certificação do Selo de Igualdade de Gênero do PNUD. Trata-se de uma jornada institucional de dois anos que envolve:
- Diagnóstico completo dos gaps de gênero.
- Apoio técnico do PNUD na construção de políticas de equidade.
- Estabelecimento de metas para cargos de gestão com recorte de gênero.
- Criação de canal de acolhimento e denúncia de assédio moral e sexual.
- Elaboração de política institucional de diversidade e inclusão.
Viviane destacou que a atuação do Tesouro não pode se restringir ao ambiente interno. Algumas ações com foco na inclusão financeira de mulheres e na educação econômica incluem:
1. Educa+ Mulher
- Parceria com o Banco do Brasil.
- Mulheres investidoras do Tesouro Direto no título Educa Mais receberam:
- Seguro de proteção para mães solo.
- Assistência jurídica em caso de violência doméstica.
- Conteúdo gratuito de educação financeira.
2. Título Renda+
- Incentivo à poupança de longo prazo para a aposentadoria.
- Adequado ao perfil feminino, considerando maior longevidade das mulheres.
Representatividade feminina – Elaine Turatti, advogada que atua na previdência complementar desde 2006 destacou a importância da representatividade feminina no setor, compartilhando sua trajetória e entusiasmo com os avanços recentes.
“Essa manhã foi o começo de muita coisa que nós ainda temos para fazer”, disse, ressaltando o impacto das falas anteriores no webinar e a importância dos dados apresentados na pesquisa, afirmando que, embora os resultados reflitam a realidade da sociedade, agora existe um “insumo concreto para realmente fazer a diferença”.
Ela enfatizou a necessidade de dar mais voz ao tema dentro das entidades e buscar transformações estruturais que permitam às mulheres alcançar posições de liderança. Um dos destaques de sua fala foi a menção ao livro “Mulheres na Previdência Complementar – Volume 1: O Poder de uma História”, projeto que ela coordena em parceria com a editora Líder.
A obra reúne histórias de vida de mulheres do setor, com diferentes trajetórias e tempos de atuação, e será lançada oficialmente em setembro (saiba mais). Elaine concluiu reforçando que a mudança não depende só das mulheres: “É um movimento conjunto de homens e mulheres que queiram mudar o mundo”,