Investimentos, tecnologia e disrupção são temas de debate em Encontro Regional

A manhã desta sexta-feira, 21 de agosto, foi preenchida por debates relevantes sobre o futuro, desafios e oportunidades do sistema de previdência complementar durante o Encontro Regional Sudoeste e Sul. A primeira parte do evento contou com a participação de Margot Alyse Greenman, CEO da Captalys, que deixou mensagem institucional e enalteceu a visão inovadora da Abrapp na realização de projetos. “Os Diretores da Abrapp investiram tempo para entender nossas estratégias e entenderam que elas não apenas fornecem rentabilidade atraente e consistência, mas também estão alinhadas às melhores práticas ESG ao tratar de uma carteira pulverizada”.

​Diante desse tema, o painel Cenário Econômico e Desafios na Alocação, trouxe um debate sobre a importância de um novo olhar para os investimentos. Luiz Paulo Brasizza, Diretor-Presidente da UniAbrapp, foi moderador do painel, que tratou do cenário pós-pandemia; abordou o acesso, diversificação e modelo de gestão de fundos imobiliários; investimentos no exterior; e tecnologia para trazer consistência ao portfólio. Brasizza destacou o atual cenário de baixa de taxa de juros, que ao mesmo tempo que é um desafio, traz oportunidades. “É nessa linha de raciocínio que se abre a necessidade de buscar novos segmentos”.

​Marcelo Gaspari Cirne de Toledo, Economista-Chefe e Superintendente Executivo de Gestão de Renda Fixa e Crédito da Bradesco Asset Management, apresentou um panorama do efeito da crise atual, que é diferente das demais experimentadas pelo mercado e deve ser pensada de outra forma. “Como em um desastre natural, a primeira questão de acabar a crise é acabar o desastre. A grande pergunta é quando vai acabar a origem da crise. Começamos a ter visibilidade, ainda com muitas dúvidas, mas podemos desenhar uma referência”.

Em seguida, ele apresentou os principais indicadores da atividade econômica mostrando os efeitos da reação do Banco Central à crise. “A recuperação já foi muito importante a partir de maio, mas a queda de emprego continua”. Toledo destacou que a projeção da queda do PIB para este ano é de 5%. “Hoje temos 5 milhões de pessoas afastadas do trabalho. A questão é como ocorrerá a passagem disso. Isso explica porquê o Banco Central convergiu para uma taxa de juros tão baixa, de 2%, que deve permanecer por muito tempo ainda”.

A grande questão colocada para a recuperação do país é a volta da política fiscal, respeitando o teto de gastos, pontuou Toledo. “Como conciliar essa realidade de pouco espaço fiscal com os projetos apresentados pelo governo? A discussão deve permanecer até o final do ano, e na nossa visão é possível que se crie uma nova emenda permitindo acionar gatilhos do teto”. Ele destacou que a projeção do PIB para o próximo ano é de um crescimento de 4%, e o câmbio, que em termos reais, está muito depreciado, não deve apreciar no curto prazo.

Diversificação – A diversificação se torna cada vez mais uma necessidade dentro dos portfólios dos investidores, e os fundos imobiliários oferecem uma boa alternativa. Bárbara Lombardi, Gestora de Fundo de Fundos da Rio Bravo Investimentos, explicou como fazer avaliações mais precisas do desempenho desses fundos e a correlação com outros índices do mercado para poder, assim, capturar as melhores oportunidades. “Historicamente, se pegarmos a volatilidade do IFIX frente ao Ibovespa, ela gira em torno de 25%”, disse.

Os fundos imobiliários cresceram expressivamente em liquidez nos últimos anos, refletindo quase 1 milhão de investidores em bolsa, contou Bárbara, o que mostra um crescimento em liquidez de quase 500% entre 2018 e 2020. “Hoje já vemos uma classe muito mais transparente aos olhos do mercado, com uma crescente de liquidez que é decorrência dessa transparência, aliada à entrada de novos investidores em bolsa. Os fundos imobiliários possuem mais de R$ 105 bilhões em PL”, destacou.

Ela explicou ainda quais são as diversas classes de ativos imobiliários que compõem o IFIX, sendo que o maior segmento é o de CRI; o segundo maior é o de shopping e varejo; seguido pelos corporativos multiativos; logística industrial; e fundos de fundos. “Temos classes extremamente desenvolvidas fora do Brasil, e aqui ainda vemos uma indústria que cresce muito concentrada nesses segmentos”, destacou Bárbara. Nos últimos meses, mais fortemente, houve o desenvolvimento de teses menos tradicionais que estão começando a entrar em operação no Brasil, mas Bárbara ressaltou que ainda há muito espaço para crescimento, no país, de teses já muito desenvolvidas fora do país.

Seleção de fundo imobiliários – O processo de investimento passa por alguns pontos de avaliação importante, como seleção de ativos e gestores, e construção do portfólio, com a importância de manter um monitoramento contínuo e determinação do perfil do investidor. “De forma pontual, temos que olhar a solidez dos locatários, a localização dos imóveis e suas características técnicas; além de avaliar os times e gestores, pois eles que farão o processo de investimento e a gestão de riscos do portfólio”, destaca Bárbara.

Ela falou ainda sobre a importância da ponderação dos riscos que o portfólio traz e uma avaliação do que aconteceu com os segmentos durante a crise. “Fundos de shopping e varejo sofreram. Tínhamos uma pulverização, mas vemos um cenário mais estressado para essa classe. Já os CRIs teve os piores retornos ao longo dos últimos meses. Ao mesmo tempo, pela natural subordinação do crédito, essa classe performou de forma mais estável. No cenário corporativo, a gente sabe que quem têm mais chances de sobreviver são empresas mais sólidas que ocupam espaços mais localizados, com maior resiliência nos pagamentos”, detalhou. “Por isso é preciso contar com um time dedicado para fazer a ponderação e ter o máximo de retorno possível”, complementou.

Investimentos no exterior – O atual desafio de um mundo que seguirá com juros muito baixos, dificultando bater as metas atuariais, leva os investidores para uma necessidade ainda maior de diversificar investimentos no exterior. “Diversificar não necessariamente é ter mais ativos e sim pensar em fontes que tenham representatividades diferentes do mercado local”, disse Renato Santaniello, Head de Investment Solutions da Santander Asset Management. “Esse é o verdadeiro passo para darmos ao verificar se uma carteira está diversificada ou não”.

Segundo ele, o Brasil corresponde, globalmente, a 3% do PIB mundial, 2% da renda fixa e 1% da renda variável global, ou seja, a representatividade é muito baixa. “É importante ter acesso a outros cases de investimentos, empresas, regiões e setores que não estão presentes no mercado brasileiro”, destacou Santaniello. Ele disse ainda que há 97% de oportunidades de diversificação em outras regiões do mundo. “Fazendo uma comparação setorial, temos, no Brasil, uma concentração forte em poucos setores, enquanto em um índice global como o MSCI, há mais de 20% em empresas de tecnologia que estão mais crescendo no mundo. No Brasil, não temos acesso a essas companhias”.

Ações internacionais – Santaniello mostrou o retorno dos mercados acionários globais, com descolamento em períodos diferentes. “Em momentos de crise, o impacto no mercado local foi bem expressivo, sendo mais moderado no mercado global, e o efeito do câmbio ajudou muito na performance do índice global sem hedge cambial, performando melhor que o Ibovespa”, disse. Na parte de risco, a correlação entre o MSCI e o Ibovespa é muito baixa em diversos períodos. “Um ponto interessante é avaliar a volatilidade, e em momentos de estresse vemos aumento mais expressivo em índices locais do que em índices globais”. Em um efeito de crise global, o investimento no exterior acaba tendo impacto menor do que o investimento somente local, enfatizou.

Tecnologia nos investimentos – Pensando em como auxiliar o gestor na melhor tomada de decisão e alocação de risco, ​​Isaías Rodrigues Lopes, Sócio fundador e CIO da Pandhora Investimentos, destacou o uso da tecnologia como forma de montar o portfólio. “Tanto a decisão de gestão como de alocação passa por um filtro importante da tecnologia. Muitos dos clientes de gestores que usam esse recurso são endowments e fundo de pensão globais”, disse.

Ele enfatizou que a descorrelação gera consistência ao portfólio, e através da tecnologia, uma avaliação de cenário e composição de estratégias descorrelacionadas entre si podem proporcionar uma grande queda no risco. “Ter muitas estratégias no seu portfólio com zero correlação é possível com uma boa alocação sustentada pela tecnologia”, disse Lopes. “O importante é que você consiga se blindar de todos os riscos”, complementou, enfatizando que o uso da tecnologia ajuda a tirar todos os vieses que existem nas decisões humanas.

Um desses vieses é o efeito manada. “Avaliamos o que acontece, por exemplo, se você aplicar em fundos que estão recebendo muito investimento no curto prazo. Investir com base no efeito de manada, no longo prazo, o resultado tende à média”. Outro viés é o caçador de retorno. “Quanto maior a sua revisitação aos portfólios, no longo prazo o retorno pode ficar até abaixo média. Isso vai em linha com usar tecnologia para determinar alocação de risco de longo prazo”. Por último, Lopes falou sobre o efeito retrovisor, quando o investidor anualmente vai ajustar o portfólio olhando para performances baseadas nos últimos meses. “A gente fixa a troca de portfólios para um ano, mas quanto maior o histórico, maior o retorno, e maior subsídio da capacidade técnica para se ter consistência no longo prazo”, complementou.

Inovação – Pegando o gancho da tecnologia, o segundo painel do dia, ​O Sistema Focado em Inovação e Economia Compartilhada, explorou ainda mais o seu uso na tomada de decisão dos gestores e no desenvolvimento do sistema como um todo. Guilherme Velloso Leão, Presidente do ICSS, moderou o painel e ressaltou ainda os desafios do sistema em termos de inovação, tema central do debate. “Esse painel nos mostra a necessidade das fundações aprofundarem seu due diligence para tomar decisões”.

Rodrigo Terni, Co-fundador e Co-CEO da Giant Steps Capital, destacou a importância de se avaliar os fundos alocados pelas Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) quebrando o processo de gestão em pesquisa, tomada de decisão e execução, e gestão de risco. “A maioria das gestoras locais tomam decisão de forma discricionária. Mas há uma tomada de decisão mais sistemática, com diferença ao usar ou não a tecnologia”, disse. Ele explicou que pesquisa, principalmente na indústria de gestão, é o processo de se coletar informações, tratá-las e disponibilizá-las para que a equipe de gestão tome as decisões. “A sua área de pesquisa precisa estar munida de tecnologia para obter rapidamente a melhor informação possível”.

Tomada de decisão e execução – A tomada de decisão do gestor pode ser discricionária ou sistemática, conforme explicou Terni. “Tudo que a gente propõe é que ela seja baseada em um sistema, com regras. E para a parte de risco, isso é muito importante”. Na execução e gestão de risco, é preciso avaliar decisões muito rapidamente, e o uso da tecnologia é essencial para auxiliar esse processo. Terni disse ainda que a composição de uma gestora tradicional hoje é 30% das pessoas em gestão, 10% em risco, 5% em compliance, 15% em comercial e 40% em operações, justamente pelo baixo uso de tecnologia.

Segundo ele, em 10 anos, a parte de operações vai diminuir rapidamente, pois será automatizada, bem como a parte de risco, que terá seus parâmetros automatizados dentro de um sistema. “Já a área de pesquisa aumentará para 40%, aliada à inclusão de tecnologia, que não existe hoje, e que também terá participação de 40% no processo”, complementou.

Soluções para EFPC – ​Não apenas na gestão, mas o uso de tecnologia na busca por soluções para o sistema foi o tema de encerramento do painel, com participação de Claudia Regina Janesko, Superintendente Executiva da Conecta, que destacou que a disrupção precisa se tornar um padrão de cultura na estrutura organizacional das EFPC. “A tecnologia digital é fundamental para a nova realidade do sistema. Na ânsia de trazer um ferramental tecnológico, essas ferramentas são o meio, e não o fim, dando respostas aos problemas”. Segundo ela, na busca por soluções as habilidades técnicas são muito importantes, mas além disso, Claudia destacou as habilidades comportamentais. “No ambiente em que vivemos hoje, é imperativo que nossas equipes procurem inovação, criatividade e adaptabilidade à mudança. É isso que vai nos auxiliar no processo de construção de um novo mindset. Assim, é possível chegar a um novo modelo de negócios”.

Claudia complementou dizendo que o que levou o sistema até o patamar atual não o levará adiante. “Temos um ambiente cheio de instabilidade e desafios, e várias opções de soluções para auxiliar nessa trajetória. Pautado em solução e inovação, o sistema tem feito um movimento intenso no sentido de acelerar na caminhada da inovação”, destacou Claudia.

Para acelerar esse processo, a Abrapp, com a gestão da Conecta e da LM Ventures, está caminhando com o projeto do Hupp, hub de tecnologia da previdência privada que visa desenvolver ferramentas para solucionar as principais questões atuais das EFPC.

O Hupp selecionará 17 startups que passarão cerca de 9 meses focadas na criação dessas soluções. “Mais do que um grande laboratório, o Hupp é um espaço de conexão desse sistema tão relevante da previdência complementar com esse novo ecossistema de startups. O Hupp também é um espaço de colaboração, onde um grupo de EFPC levanta suas dores e, juntas, pensam em soluções. Também compartilharmos perspectivas, soluções e ganhos decorrentes das soluções compartilhadas”.

Hupp – O Hupp já possui 11 entidades parceiras e passou por 200 interações com startups, das quais 40 foram entrevistadas e, após 30 pitchs, 17 serão selecionadas. ​Magnus Arantes, Diretor da LM Ventures, explicou um pouco sobre a área de hub de tecnologia, cuja essência é a criação de soluções compartilhadas. “Digitalizar é potencializar. Por trás do que tem no Hupp está a criação soluções escaláveis”.

Ele destacou que o mercado financeiro já conta com um ambiente digitalizado onde será possível trabalhar para colocar soluções, mas o foco de atuação do Hupp será aprimorar áreas que ainda não passaram por esse processo de digitalização, como comercial, atendimento, entre outros. “Vamos trabalhar com tecnologia focando em algumas coisas, mas junto com isso, criaremos oportunidades diferentes. Essa é a ideia do Hupp”, finalizou.

Os Encontros Regionais da Abrapp contam com o patrocínio de: Giant Steps Capital, Bradesco Asset Management, Pandhora, Rio Bravo, Santander Asset Management e Captalys. O evento tem o apoio da Mapfre Investimentos e da Franklin Templeton.

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