Elaborado em um workshop com mais de 40 dirigentes e especialistas da Abrapp, Sindapp, UniAbrapp, ICSS e Conecta realizado no início de fevereiro, o Planejamento Estratégico do sistema já está consolidado e começou a ser apresentado para os órgãos de governança e comissões técnicas da associação. O Superintendente Geral da Abrapp, Devanir Silva, realizou a primeira apresentação do planejamento completo, com o detalhamento dos projetos e atividades, inclusive com a divisão de tarefas em grupos de trabalho, na reunião da Diretoria Integrada da Abrapp no último dia 1 de março. E agora voltou a apresentar para o Colégio de Coordenadores das Comissões Técnicas de Assuntos Jurídicos, que aconteceu nesta quinta-feira, 16 de março.
O planejamento foi construído com uma visão compartilhada para os próximos 10 anos, ou seja, até 2033, mas foi alinhado para sua aplicação no biênio de 2023-2024. Ele foi dividido em seis projetos principais (eixos), 20 atividades-chave e 77 ações.
O documento foi elaborado a partir de uma análise do processo social e econômico transmitido pelo professor José Roberto Afonso, que alertou para o desafio de se viver em um cenário de inseguridade social, com mais trabalho e menos emprego e maior dificuldade para que a próxima geração possa gerar poupança previdenciária. Alguns dos elementos que influenciarão a conjuntura nos próximos anos devem ser o cenário de juros altos no Brasil e no mundo e a agenda ESG. Algumas das indicações feitas pelo professor foram a necessidade de avanço na Reforma Tributária e a maior integração entre previdência e saúde, explicou Devanir.
A análise da situação da Previdência Complementar de 2002 e de 2022, desafortunadamente, não mostrou uma grande evolução. O setor continua representando os mesmos 13% do PIB de 20 anos atrás, diferente de outros mercados internacionais onde a Previdência Complementar continuou avançando. O Superintendente Geral da Abrapp destacou a apresentação realizada pelo Diretor-Presidente, Jarbas Antonio de Biagi, ainda na elaboração do Planejamento Estratégico, reforçando os pilares e a missão principal de nosso setor, que deve manter o foco no caráter social do pagamento de benefícios. Ou seja, é preciso preservar a vocação previdenciária do setor, sem deixar de buscar harmonização e fomento.
Devanir destacou também a recriação do Ministério da Previdência Social no atual governo, mas alertou que mais do que a manutenção do órgão, é necessário provê-lo de estrutura mais adequada. Ele alertou que dos 37 ministérios existentes no governo atual, o da Previdência é o 34º em estrutura. Defendeu também que é preciso caminhar para a criação de um arcabouço legal mais flexível e incentivador de poupança, com a harmonização de regras entre as abertas e as fechadas.
Reforçou ainda a necessidade de criação de ações de marketing, com atenção para a criação de áreas comerciais dentro das entidades. Isso é importante porque o fenômeno da pejotização impõe a necessidade de se buscar novos clientes para os planos de benefícios.
Visão de cenários – O Superintendente Geral da Abrapp expôs a importância da análise do que chamou de sinais inevidentes. “São indicadores que podem passar desapercebidos, que não possuem qualquer importância, mas que podem ser cruciais. Eu cito alguns exemplos, como a BlockBuster, que não prestou atenção no surgimento da Netflix”, disse. Citou outro exemplo do Yahoo que não deu importância para a ascensão do Google. Nos dois casos, as empresas poderiam ter comprado as concorrentes, que vieram a superá-las no mercado no futuro, por preços muito baixos.
“Um exemplo positivo é o da Folha de São Paulo, uma empresa criada na década de 1920. Em 1998 eles praticamente mataram o jornal e eles próprios criaram o UOL, que é um sucesso, um dos maiores sites de notícias”, comentou Devanir.
Organizações infinitas – Um conceito importante utilizado para embasar o Planejamento Estratégico da Abrapp é o de organização infinita. “Nós partimos então para uma construção coletiva de estratégia. O grande objetivo das organizações é se tornar infinita, que são aquelas que conseguem se renovar continuamente, manter o seu propósito, satisfazer os seus clientes, conquistar o seu espaço, independente de forma. Elas entendem o passado, estão atentas ao futuro, mas o seu foco é no presente. Toda essa construção do planejamento aconteceu com a utilização deste conceito”, disse Devanir.
A partir daí foi traçado o “Futuro Desejável”, que se aproxima da situação que se almeja para a Previdência Complementar. “Tem aquele futuro absurdo, impossível de acontecer. Há aquele plausível e também o provável. Mas o nosso talvez seja o desejável, o que gostaríamos que acontecesse. Então, envolve soluções construtivas, por isso fizemos o plano mais longo de 10 anos, com a aplicação em dois anos”, explicou o Superintendente Geral da Abrapp.
Futuro Desejável – Os sonhos do “Futuro Desejável” construídos são os seguintes: a Previdência Complementar Fechada no Brasil supera 100% do PIB, os planos de benefícios são oferecidos desde a primeira infância e atendem mais da metade da população; a Previc como órgão de Estado; acontece uma reforma estrutural da Previdência; surgimento de uma legislação tributária de fomento; uso compartilhado de soluções e plataformas digitais; educação financeira e previdenciária para todos; Previdência Complementar obrigatória para as empresas, entre outros pontos.
“Sempre temos um sonho de um futuro desejável que nos inspira a trabalhar no presente. Os dirigentes colocaram nas discussões esse sonho, da previdência complementar sendo realidade para todos, superando 100% do PIB, abrangendo 50% da população brasileira, entre outros pontos”, explicou Devanir.
Não se pode esquecer dos pontos cegos do sistema, como por exemplo o termo “fechado” para os planos e entidades. Foi discutido que é importante ressaltar o caráter sem fins lucrativos das entidades, mas o conceito de “fechado” deve ser superado cada vez mais.
Representação do diamante – Partindo da construção do mapa do contexto atual, o planejamento avançou para a definição de cinco eixos, que foram representados como vértices de um diamante. Como resultado, cada lado do “diamante” ganhou entre 4 e 7 direcionadores para as ações futuras. No pilar de “Valorização do Ambiente Associativo”, por exemplo, a promoção de uma Abrapp Itinerante, a maior divulgação do trabalho das Comissões Técnicas e a implantação de um programa de fidelidade (cashback) para as associadas foram algumas das propostas consolidadas. Já no pilar de “Estratégias Visionárias e Versáteis”, o incentivo à Autorregulação, o posicionamento das EFPC como parte do “S” de ESG, a racionalização e modernização da regulação e a ampliação da estratégia sistêmica de comunicação, entre outras, foram propostas definidas pelo grupo.
Na vertente de “Modelos de Negócios Dinâmicos e Competitivos”, a adoção do modelo de distribuição com base em plataformas, promoção da oferta de renda qualificada, mecanismos para expansão de vendas e fomento da digitalização englobam as diretrizes. Complementar a essa visão, o pilar “Estruturas Operacionais Editáveis e Ágeis” traz propostas para desenvolver a cultura de agilidade nas EFPC, promover a cultura de sucesso do cliente (customer success), mudança do mindset sobre compartilhamento de serviços e custos entre as EFPC, fortalecer o relacionamento com a Conecta, entre outros.
Por fim, o pilar “Cultura de Transformação” tem direcionadores para criar programas para divulgar, educar e conscientizar sobre previdência, trilhas de conhecimento focadas em gestão, fomentar a autoavaliação em conselhos e incentivar a reestruturação do modelo previdenciário, mais alinhado à nova realidade do País.
Projetos e atividades – A partir dos eixos foram definidos seis projetos, sendo cada um deles divididos em atividades-chave a ações. A denominação dos projetos é a seguinte: Previdência Complementar para Todos; Sem Fins Lucrativos Sim, Fechada Nunca Mais; Expansão ou Morte; Operação Descomplica; Projeto de Gestão – A Maior de Todas as Tecnologias; Força do Coletivo – Compromisso com o Futuro. Veja a seguir as atividades relacionadas a cada projeto:
“Previdência complementar para todos”
- Retomar, disseminar e trabalhar pelo encaminhamento e aprovação da proposta de reestruturação do Modelo Previdenciário, elaborada pela FIPE-USP e em parceria com Fenaprevi
- Criar estratégia Nacional de despertar da consciência e Educação Previdenciária
- Trabalhar pelo protagonismo e reposicionamento do setor na agenda ESG
“Sem Fins Lucrativos Sim, Fechada Nunca Mais”
- Elaborar, disseminar e trabalhar pelo encaminhamento e aprovação de proposta de modernização das Leis Complementares 108 e 109 e arcabouço regulatório do Sistema
- Trabalhar para aprovação das propostas de alterações normativas que incentivam a poupança de longo prazo
- Mobilizar a Previc para implementação de Sandbox Regulatório* à exemplo de Bacen, CVM e Susep
“Expansão ou Morte”
- + Trabalho e – Emprego: colocar o bloco do Instituído Corporativo na rua
- Liderar movimento 2.0 dos Planos Família
- Trabalhar junto com as EFPC na geração de valor ao cliente, criação de novas fontes de receitas e estudo de novos produtos
- Estruturar, inspirar e instrumentalizar adoção de uma nova narrativa para o posicionamento e imagem das entidades
“Operação Descomplica”
- Realizar diagnóstico nacional (semelhante Pesquisa Salarial) sobre o status das estruturas operacionais das EFPC
- Desenvolver Cultura de Reestruturação Contínua (ambidestria), Analítica (data driven) e de Agilidade nos Negócios
- Trabalhar pela estruturação e benefícios do Compartilhamento de Custos e Serviços
“Gestão – A Maior de Todas as Tecnologias”
- Consolidar a Autorregulação do setor
- Promover balanço geral e análise crítica da Certificação Profissional, após 8 anos de implementação
- Trabalhar fortemente na oferta de soluções educacionais que deem suporte aos processos transformacionais
- Incentivar a implementação da Governança Ágil nas EFPC
“Força do Coletivo – Compromisso com Futuros”
- Fortalecer senso de comunidade e engajar as associadas na visão e construção coletiva do futuro desejável
- Apoiar tomada de decisão e operação das EFPC através da ampliação e fortalecimento das estatísticas e indicadores do setor
- Fortalecer a Governança interna das instituições
Em cada um dos projetos, atividades e ações são relacionados Grupos de Trabalho (GTs) formados pelos membros da Diretoria da Abrapp, Comissões Técnicas e Comitês, que ficam encarregados pelo seu desenvolvimento e cumprimento. O objetivo é a realização das ações durante o biênio 2023/2024.