Por que o seu atuário deve entender de investimentos? – *Por Sara Marques

Sara Marques, LUZ Soluções

Na gestão de um fundo de pensão, há uma premissa inquestionável: o passivo é tão importante quanto o ativo. De nada adianta cuidar da receita, por meio de investimentos estruturados e rentáveis, se a evolução da carteira não acompanhar as previsões de desembolso. Somente conseguimos um bom desempenho quando as duas áreas estão interligadas e buscam o mesmo objetivo.

Apesar de lógico e conceitualmente básico, na prática, podemos ver cenários distintos. Os ativos, geralmente controlados pelos gestores de investimentos, podem não estar alinhados com os cenários desenhados pelos atuários. Estes, por sua vez, muito mais do que realizar uma revisão anual do passivo, precisam conhecer de investimentos para avaliar se os recursos serão suficientes para cumprir as obrigações previstas para os próximos anos.

Em outras palavras, o atuário deve saber se as despesas previstas estão alinhadas com as estratégias de investimentos e, caso perceba algum desalinhamento, sinalizar, antecipadamente, para o gestor de investimentos. A sinergia entre as duas áreas e este acompanhamento são essenciais para um fluxo financeiro coerente.

Infelizmente, o descasamento não é algo raro e traz grandes preocupações para as fundações, patrocinadores e investidores. Se o fundo se compromete com um resultado equivalente à variação do IGP-DI acrescido de um prêmio, por exemplo, a área de investimento não pode ter como meta a variação do IPCA mais um prêmio.

Quando falamos em resultado em fundo de pensão, estamos nos referindo à qualidade de vida de pessoas que dependem e contam com estes recursos. Tratam-se, muitas vezes, da economia e das reservas de uma vida toda. A responsabilidade é imensa e o atuário precisa estar ciente que o seu  compromisso não termina com a revisão dos cálculos. Ele vai além.

Em um cenário de queda de juros, como o que presenciamos este ano, atuário e gestor de investimentos precisam estar cientes que o aumento do passivo poderá ser superior ao retorno proporcionado pelos títulos mais conservadores. Não podemos simplesmente transferir a responsabilidade para o gestor de investimentos como se não tivéssemos nenhuma relação com o que acontecerá.

Não estou dizendo que o atuário deve ser um consultor de investimentos. Não. Não é esta a sua função. Quem buscará os melhores investimentos será o gestor de investimentos. Mas, como controlador do passivo, precisamos acompanhar a gestão dos ativos para garantir que cada pessoa receba o que espera.

Como atuária, posso afirmar que somos responsáveis pelo cumprimento das obrigações e não devemos somente olhar para as hipóteses biométricas e econômicas. O atuário deve proteger o participante e, com foco nele, entender oportunidades de investimentos e os seus respectivos riscos. É sua responsabilidade acompanhar a carteira e avaliá-la de acordo com a evolução dos seus investimentos.

Ao conhecer os papéis que compõem o fundo, com os seus respectivos vencimentos, conseguimos utilizar todo o conhecimento atuarial para sinalizar possíveis períodos de atenção no futuro. E é esta sinergia entre atuário e gestor de investimento que todos os participantes e patrocinadores esperam e precisam.

*Sócia e diretora da Previdência da LUZ Soluções Financeiras. Formada em Ciências Atuariais pela PUC e com MIBA (sócia-membro do Instituto Brasileiro de Atuária), possui experiência nas áreas de inteligência de mercado, saúde suplementar e previdência complementar.

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