Revista da Previdência Complementar: “China, do rato ao boi” – Entrevista com Roland Van Den Brink

Entrevista com o Diretor do Instituto Europa China e de Professor Sênior da Nyenrode Business University publicada na edição nº 434 maio/junho de 2021 da Revista da Previdência Complementar – Uma publicação da Abrapp, Sindapp, ICSS e UniAbrapp:

No calendário chinês, os anos são dedicados a animais, que representam os doze signos do horóscopo daquele país. 2020 foi o ano do Rato; 2021 é o ano do Boi. “No mundo ocidental, o rato desperta um sentimento negativo. O boi, por sua vez, representa força, potência e utilidade.” A analogia é do holandês Roland van den Brink, fundador da gestora TrigNum, que contabiliza mais de 35 anos de experiência na indústria de fundos de pensão. Ao longo da carreira, ocupou cargos importantes nas áreas de investimento em algumas das mais importantes fundações holandesas, como PME e Shell. Eleito em 1997 pela publicação americana Pension & Investments como um dos 25 executivos mais promissores da indústria global, foi um dos primeiros – e bem-sucedidos – investidores em ações “A-shares” da China, conseguindo triplicar os €140 milhões aplicados em 2004-2007.

Em 2012, Roland van den Brink, que é formado em Matemática e Física, especialista em Teoria do Caos e Mestre em Ciências Atuariais, foi convidado pela Nyenrode Business University para assumir o cargo de Diretor do Instituto Europa China e de Professor Sênior de Gestão de Fundos de Pensão, tendo, desde então, ministrado master classes na EDHEC em Cingapura e Londres, e organizado vários seminários de sucesso para conselheiros previdenciários holandeses.

Nesta entrevista exclusiva, o Presidente da Sociedade Atuarial Holandesa e Conselheiro da Associação Atuarial Internacional fala das alternativas de investimento oferecidas pela China e recomenda atenção aos institucionais às boas oportunidades em função de três fatores: diversificação, valuation e apreciação da moeda. “Recomendo que os fundos de pensão aumentem a alocação em etapas e tentem comprar aos poucos. Como o governo chinês tem uma política clara de construção de um mercado financeiro de alta qualidade, não há por que hesitar.”

De onde vem o seu interesse pela China? Poderia nos contar um pouco sobre a sua experiência?

Roland van den Brink – Em 2004, fui Gerente de Investimentos de um grande fundo de pensão holandês, o Metalektro. Lá tivemos a oportunidade de investir €140 milhões em ações locais chinesas, algo que nos interessou porque o governo havia decidido abrir o mercado para estrangeiros e, para isso, entendeu que deveria haver uma recompensa. Na época, foi um dos maiores investimentos estrangeiros registrados no país. Em três anos, nosso investimento triplicou. Durante o processo de “due dilligence”, percebi que muitas das informações disponíveis eram incorretas ou tendenciosas. Havia, por exemplo, uma crença amplamente difundida de que seria difícil retirar o dinheiro do país, mas não encontramos nenhum obstáculo à retirada de quase meio bilhão de euros. Desde então, tenho visitado a China regularmente para conhecer gestores de ativos, reguladores e representantes locais de veículos jornalísticos internacionais como Bloomberg e Reuters. Em 2015, levei um grupo de gestores de fundos de pensão para visitar Pequim e Xangai para que eles tivessem uma ideia do que significa investir na China e pudessem conhecer autoridades, investidores e outros profissionais relevantes. Vale ressaltar que a China é comparável à Europa e não a um país como Alemanha ou França. A população chinesa é três vezes maior do que a europeia. Também é importante manter em mente que um terço da população chinesa ainda tem renda inferior a 5 euros por dia. Por isso, o governo chinês está seriamente comprometido com o desenvolvimento do país.

Diferenças culturais são relevantes nesse universo de investimento?

Roland van den Brink – Diferenças culturais entre o Ocidente e a China incluem, por exemplo, a atitude em relação ao investimento. Na China, investir é, também, uma atividade social, comparável às corridas de cavalo ou ao futebol no Ocidente. Não se trata apenas de ganho financeiro, mas de conversar com outras pessoas e trocar opiniões. Os investidores privados dominam o mercado de ações. Apenas 4% estão nas mãos dos investidores institucionais. Isso significa que os preços das ações podem reagir fortemente a rumores, conforme ocorreu, por exemplo, na crise de 2007. Os chineses hoje em dia usam o celular para investir e conversar. (Continua…)

Leia a entrevista na íntegra: clique aqui para acessar a edição nº 434 completa.

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