Seminário de Investimentos: Especialistas apresentam visões estratégicas e alternativas de alocação para as EFPC

A elaboração das políticas de investimentos e asset allocation para as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) representam um desafio não só por conta das taxas de juros, mas também pelas demandas do mercado, que vem lançando produtos como planos família e novos planos de Contribuição Definida (CD). Diante disso, é importante saber fazer uma boa alocação dentro dos segmentos, pensando no momento da tomada de decisão e visando a rentabilidade no longo prazo dos planos previdenciários. O 10º Seminário Gestão de Investimentos nas EFPC abordou o tema nesta quarta-feira, 15 de setembro, no painel “Política de Investimentos e Asset Allocation: O Que Considerar Para a Melhor Estratégia?”

“Esse é um ano desafiador, com cenário político tenso, eleições se aproximando, aumento da inflação, desaceleração do PIB e juros pressionados, que implicam no valuation dos ativos. O desafio é como incorporar nas políticas de investimento decisões táticas de forma a não comprometer o foco estratégico”, pontuou Édner Bitencourt Castilho, Coordenador da Comissão Técnica Sudoeste de Investimentos da Abrapp, que fez a moderação do painel.

Para tratar dessa visão mais estratégica, Guilherme Benites, Sócio Diretor da Aditus Consultoria Financeira, e Francisca Brasileiro, Head Investment Solutions e Business Development da TAG Investimentos, fizeram apresentações mostrando que sair do risco não é adequado, mas a tendência das EFPC é buscar se proteger diante de impactos que o cenário podem trazer para suas carteiras. “A discussão é sobre o que fazer agora que as taxas de juros estão maiores que nos anos anteriores”, disse Benites.

Ele retomou o cenário desde 2014, quando a Selic atingiu dois dígitos, cenário que se manteve crescente até 2016, ano em que a taxa básica de juros começou cair e, assim, as entidades começaram a incrementar suas posições de risco. “Com uma previsão de alta da Selic para próximo de 8,5% e uma inflação de 5%, a taxa de juro real ficará em 3,5%”. Para Benites, essa conjuntura de renda fixa mais alta não deve significar o abandono do caminho trilhado para o risco pelas entidades, mas talvez freará a tendência de cada ano das fundações incrementarem a renda variável em suas carteiras. “Por ora, não tenho visto uma tendência da renda variável ser reduzida para o ano que vem. Isso porque analistas do mercado veem algumas probabilidades e cenários positivos, e não ter bolsa nesse momento sairia muito caro”, pontuou.

Exterior – Mais do que diminuir renda variável, as entidades devem optar por ter uma parcela de hedge na carteira, destacou o consultor da Aditus. Assim, o investimento em ativos internacionais tende a aumentar. “Do começo de 2020 em diante, a alocação no exterior aumentou muito. Deve haver aumento do exterior para ter um benefício de diversificação em diversas economias que não sofram a interferência do cenário eleitoral que haverá no Brasil”, destacou.

Hoje, a média de alocação das entidades no exterior é de 3%, apesar de muitas fundações estarem com investimentos mais altos, tentando se aproximar do limite máximo de 10%. Nesse caso, Benites apontou como uma possibilidade a utilização dos BDR e ETFs, ativos que recentemente foram enquadrados, segundo entendimento da Previc, como investimento local. “Acho esse um instrumento muito conveniente. Claro que dependemos de liquidez, mas me parece uma alternativa para a fundação que está no aguardo de uma mudança na legislação que eleve o percentual de investimento no exterior”.

Construção de portfólio – Para Francisca Brasileiro, a discussão de cenário não deve conduzir a alocação das EFPC. “Temos desaceleração na Ásia, inflação e alta de juros global, e retirada de estímulos. Devemos estar atentos a esses riscos, mas não nos nortearmos por eles”, pontuou. Apesar da foto ruim, Francisca destacou que os indicadores mostram uma melhora ao longo do tempo. “Estamos vivendo um momento crítico, mas se olharmos esse contexto comparado a outros períodos de risco, temos diversos desafios, mas de certa forma o macro está bem melhor do que o esperado há uns meses atrás”.

Segundo ela, na hora de construir o portfólio é preciso tirar o fator emocional e se basear apenas nas análises fundamentalistas sobre o cenário econômico. Assim, a primeira visão da TAG é manter uma alocação o máximo possível em ativos internacionais, que promovem o descorrelacionamento com os riscos do cenário local. Em relação à renda variável, para o investidor de longo prazo, o exercício é olhar o fundamento de crescimento do ativo. Francisca disse ainda que, apesar da volatilidade e discussões políticas relacionadas à bolsa, a perspectiva é positiva para o investidor de longo prazo.

Ela avaliou que a alocação média de 15% nessa classe ativos para as entidades é baixa pensando em um longo prazo com metas de retorno real de 5%. “Discutimos pouco sobre a fonte de retorno e risco. Muitas fundações, nos últimos anos, só aumentaram a volatilidade em busca de mais retorno. A principal mudança tem que ser na política de investimentos, nas outras fontes de retorno e risco”, disse.

Em se tratando de juros, o carrego das NTN-Bs continua sendo um colchão importante para os institucionais, mas em um mundo de juros mais altos, essa é uma discussão mais estrutural do que de curto prazo. “Não caiam na tentação de reduzir risco pelo que estamos vivendo agora. Ao mesmo tempo, devemos fazer ajustes táticos”, reiterou Francisca, salientando a importância das EFPC observarem a sua tolerância a risco e fazer os ajustes de acordo com essa visão. “É importante ter um plano, e não uma foto daquele momento. Vamos ter o roteiro, que são os estudos, e discutir ao longo do tempo como implementá-lo”, pontuou, destacando que isso proporciona uma construção de portfólio mais robusta.

Apesar do juro real contribuir para que haja a presença mais proeminente de renda fixa na carteira das entidades, Guilherme Benites acredita que o mecanismo de proteção que o plano CD usa é manter a alocação em bolsa, enquanto instrumentos de caixa tendem a ser perdedores. Segundo ele, o cenário de alta da Selic também não deve promover uma grande mudança nas alocações em estruturados e imobiliários. Por outro lado, Benites notou um aumento na alocação de crédito, já que há emissões de empresas com saúde financeira adequada pagando spreads elevados.

Para Francisca, as fundações estão começando a desmistificar a alocação em ativos reais, como private equity ou venture capital, que ainda é uma classe que institucionais estão pouco alocados. “Há uma descorrelação de risco de mercado, prêmios de liquidez altíssimos e excelentes oportunidades. Private equity e venture capital precisam ressuscitar no Brasil se quisermos ter carteiras mais diversificadas e com menos volatilidade”.

Em crédito, Francisca corroborou a visão de Benites ao dizer que as empresas estão indo captar no mercado, o que torna os spreads atraentes. “Na nossa visão, a classe que deve ser melhor surfada pelos institucionais é a de crédito estrutrados”. Ela pontuou ainda que o cenário de curto prazo deve mexer nas políticas para fundações que determinaram seus riscos. “Se você não adequou, é preciso adequar agora. A partir daí, é preciso ter uma carteira de gente grande, pois o juro real, mesmo subindo, não vai voltar ao que era antes. Nesse contexto, não é bolsa que vamos aumentar agora, e sim outras classes que ainda estão mais para trás na carteira das entidades”.

Alternativa de investimentos – Entre as oportunidades citadas para as EFPC encontrarem esse equilíbrio sem sair das suas posições de risco atuais está o investimento em crédito. No painel “O Amanhã Melhor Que Hoje: Um Panorama Sobre o Mercado de Crédito”, especialistas destacaram a vantagem deste ativo para as fundações em termos de alternativa de investimentos por oferecer retornos superiores aos títulos públicos, possibilitando maior diversificação com menor volatilidade e baixa correlação com mercados tradicionais, além dos créditos atrelados à inflação possuírem mais aderência ao passivo das EFPC.

Cleiton Augusto Oliveira Pires, Coordenador da Comissão Técnica Nordeste de Investimentos da Abrapp, moderou o painel e pontuou que o mercado de crédito começou a fazer mais parte do portfólio das EFPC em um momento de taxas de juros baixas, mas com a pandemia, essa classe de ativos sofreu um impacto. Ainda assim, ele destacou que esses ativos trazem novas oportunidades para os investidores e elas precisam ser exploradas pelas entidades.

No ano passado, o tema foi super relevante, pontuou Ulisses Nehmi, CEO da Sparta, que observou que houve um comportamento desigual em relação a diferentes empresas diante da crise de Covid-19, já que alguns setores foram mais atingidos que outros. “As métricas de crédito das empresas variaram bastante a depender do tipo, porte e setores das empresas”, disse. “Já as empresas que costumam acessar mercado de capitais, de maneira geral, não sofreram com a pandemia, conseguindo se ajustar aos novos desafios da economia”.

Ulisses apontou o risco de liquidez, com ativos que tiveram choque mais rápido e intenso nos preços durante esse período. “Eventualmente vimos fundos mais high grade, com maiores notas de crédito, com mais oscilações, e fundos com ativos mais ilíquidos com menos oscilações”. Segundo ele, a marcação a mercado dos fundos é uma proteção, além de poder ser uma oportunidade para investidores que aproveitaram o momento de maior estresse no mercado para comprar ativos.

Ele destacou o spread de crédito, sendo que os ativos de crédito privado ainda estão com remuneração mais atrativa por conta do nível da Selic que estava muito baixa no ano passado, e a maior parte dos ativos é indexada ao CDI, mas reiterou que com o ciclo de alta, esse cenário pode mudar. “A Selic mais alta e o maior apetite por um spread de crédito aumentou a demanda por crédito privado”.

Com o ciclo de alta da Selic, o CDI tende a ganhar mais atratividade, pontuou Ulisses, em comparação com o IPCA. “Do ponto de vista dos investidores institucionais, com a questão da meta atuarial e retornos pré-fixados, para se proteger, os investimentos atrelados ao IPCA podem ser mais interessantes para evitar descasamentos com a meta”.

Private debt – Margot Greenman, CEO da Captalys Asset Management, fez uma apresentação sobre estratégias de private debt, destacando que uma das principais características dessa classe de ativos é que, devagar e consistentemente, acaba gerando ganhos ao longo do tempo. “O foco é proteger o capital”, disse.

Ela pontuou que o private debt tem apresentado cada vez mais relevância nas carteiras de investimentos dos investidores institucionais internacionais, e o principal motivo de investir nessa estratégia é buscar retornos mais altos com risco controlado. “É uma classe de ativos focada em dívida de empresas, mas que são necessariamente investimentos ilíquidos, ou que se enquadram na categoria de investimentos alternativos”.

Mundialmente com US$ 1 trilhão de ativos sob gestão, essa categoria faz parte das carteiras dos investidores internacionais por conta de uma visão de longo prazo, com retornos maiores, resiliência contra perdas, e pela oportunidade de diversificação com baixa volatilidade e liquidez adequada. “A resiliência dessa estratégia é o destaque”, disse Margot.

No mercado brasileiro, private debt tem evoluído bastante, segundo ela, sendo que a maior oportunidade para os gestores atuarem é justamente no mercado de pequenas e médias empresas. “Ao longo do tempo, o mercado de crédito cresceu no Brasil, sendo dinâmico. Mas de fato ele é mais composto por empresas de grande porte”, explicou, destacando que o desafio é a grande concentração bancária. “Essa classe de ativo é dominada por bancos, que detém aproximadamente 80% de todos os ativos de crédito do mercado”.

Crédito high grade – Marcelo Rabbat, Sócio e Head de Distribuição da Vinci Partners, destacou que prazos são a grande vantagem das EFPC em relação a outros investidores, e por isso o crédito high grade indexado à inflação se torna uma oportunidade para esses investidores. “Estamos começando a perceber que a capacidade de colocar NTN-B na curva é cada vez mais restrita. E se for pra colocar a mercado, é outro padrão de volatilidade. Por esse contexto, que vem da legislação e do encurtamento dos prazos dos passivos, começa-se a ter uma abertura importante para se colocar ativos de crédito high grade ligados à inflação”, disse.

Gustavo Cortes, Sócio da área de Crédito da Vinci Partners, destacou os prêmios de risco das debêntures negociadas em mercado e o retorno de índice das debêntures comparado ao das NTN-Bs. “Na hora que você compõe isso numa janela de tempo mais longa, há um diferencial de retorno importante das debêntures em relação ao IMA-B 5”. Ele observou que a queda mais recente de juros foi mais uma mola propulsora para o crescimento deste mercado.

Gustavo apresentou a diversidade de estratégias no segmento de crédito, como debêntures corporativas e operações estruturadas, crédito imobiliário ou do segmento agro, infraestrutura, e crédito estruturado/securitizações, sendo que muitos desses segmentos possuem um pacote de garantias tributárias. “O investidor tem acesso a essas diferentes estruturas, que naturalmente demandam um pouco mais de capacidade de avaliação de risco, mas proporcionam prêmio e um equilíbrio entre retorno e risco”.

Ele pontuou ainda a importância de se fazer um monitoramento e gestão ativa deste portfólio, constantemente selecionando só ativos mais adequados para cada situação. Marcelo Rabbat reiterou a importância de observar o perfil de risco das EFPC, que devem privilegiar crédito com riscos bem mapeados, corretamente precificados e com boas garantias, além de avaliar o prazo/ALM, indexador, diversificação e gestão ativa.

Continue acompanhando a cobertura do evento no Blog Abrapp em Foco.

O 10º Seminário Gestão de Investimentos nas EFPC é uma realização da Abrapp com apoio institucional da UniAbrapp, Sindapp, ICSS e Conecta. Patrocínio Black: MAG Investimentos e XP. Patrocínio Ouro: Aditus, AZ Quest, BlackRock, BNP Paribas Asset Management, Captalys, Credit Suisse Hedging-Griffo, J.P. Morgan Asset Management, Kadima Asset Management, KPTL Investimentos , MezaPro, Pandhora, Schroders, Sparta Fundos de Investimento, SulAmérica, TAG Investimentos e Vinci Partners. Patrocínio Prata: Trígono Capital. Patrocínio Bronze: StepStone.

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