Tecnologia e inovação devem ditar a previdência do futuro 

Foto: Previc

O uso de ferramentas tecnológicas para agregar eficiência ao setor da Previdência Complementar Fechada foi pauta do debate no segundo painel“A Previc do Futuro” realizado no seminário “Previc 15 Anos” nesta quarta-feira, 13 de março, em Brasília.

Moderador do painel, o Diretor de Administração da Previc, Leonardo Zumpichiatti, destacou a necessidade dessa eficiência a partir do ponto de vista de pessoal e de tecnologia, reiterando a defasagem em ambos os setores e que estão sendo resolvidos. “Estamos avançando e propondo soluções. A ideia é que a gente possa melhorar cada vez mais. A partir disso, precisamos entender o que vai ser a Previc”, disse.

Para apresentar o uso de algumas soluções na prática de uma Entidade Fechada de Previdência Complementar (EFPC), a Diretora-Executiva da Quanta Previdência, Denise Maidanchen, fez uma apresentação do que já foi implementado na fundação.

“Temos que cuidar da tradição e dar espaço à inovação, e o principal legado que a Previc pode deixar é ensinar e pavimentar o momento em que as entidades fizerem as duas coisas por meio de uma gestão ambidestra, honrando o passado e dando espaço para o novo”, disse.

Segundo ela, uma entidade de previdência precisa olhar o que está acontecendo no mercado financeiro, que passou, nos últimos anos, por muitas transformações, reiterando entre essas mudanças a disseminação da educação. 

“As EFPC estão o tempo todo lembrando as pessoas que o tempo vai passar, que elas precisam contribuir. E as instituições financeiras também revolucionaram esse setor, pois as pessoas querem produtos e serviços mais relevantes, soluções mais personalizadas e ágeis”, destacou.

“Por essa razão, a cada ano, no nosso planejamento estratégico, a gente desbloqueia cada vez mais produtos e serviços para que a previdência seja mais relevante e importante na vida das pessoas”, disse Maidanchen, citando as inovações incorporadas pela Quanta, entre elas planos de previdência que visam expansão em rede, com associações e sindicatos fazendo a sua distribuição, e sendo 100% digital.

Além disso, a Quanta trabalhou na criação de uma plataforma de educação, a criação de perfis de investimentos e soluções mais adequadas a cada perfil, permitindo ainda que o participante acompanhe a variação da cota em tempo real.

Maidanchen demonstrou ainda o comparador de fundos, entre outras tecnologias para facilitar a comunicação e o relacionamento com os participantes, além de aplicativos próprios. “A Quanta hoje desenvolve a própria tecnologia. Todas as nossas soluções têm um propósito, uma camada educacional”.

Segundo ela, o que está por trás da tecnologia é a cultura. “Não adianta uma instituição ter milhões de recursos investidos em tecnologia sem processos e pessoas capazes de criar soluções”. Maidanchen reforçou ainda a importância da educação e do relacionamento internamente e externamente. “Investir em tecnologia vai nos dar condição de inovar, personalizar, digitalizar o acesso, nos dá condição de sermos mais eficientes e reduzir nossos custos”, disse, citando a importância de manter essas soluções para evitar o desengajamento.

“Temos um grande desafio no sistema de transformação digital e cultura. Somos um sistema com baixa proficiência em tecnologia. Além disso, temos baixa sintonia entre tecnologia e negócios”, disse.

Para construir esse ambiente, Maidanchen defende que o órgão regulador seja um grande catalisador para a inovação previdenciária, construindo um ambiente de regulação favorável, que ajude e promova mais essa educação e capacitação tecnológica e também de visão de negócios.

Propósito claro e inspirador – Eduardo Carone, CEO e Fundador da Atlas Governance, abordou a necessidade de avanço na governança nas organizações, mais especificamente, nas EFPC, desde um passo prévio fundamental. 

“Quando vamos falar sobre governança com uma empresa, sempre começamos com o propósito. A governança não é um fim, mas é um meio para cumprir vários objetivos. Sem um propósito bem definido por trás, ou vai fazer um trabalho genérico, que não vai atender o que necessita de fato, ou não será eficiente”, disse em sua apresentação. 

Ele apontou que, em geral, as pessoas sabem como fazer as coisas, mas gastam pouco tempo para refletir porque fazem aquilo. “Existe uma vantagem incrível em ter um propósito claro e inspirador. Acho que falta para as entidades fechadas vender as coisas maravilhosas que vocês fazem”, comentou.

O especialista em governança relatou um exercício realizado com uma ferramenta de inteligência artificial, perguntando qual seria um propósito inspirador para uma entidade fechada. “Chegamos a algo como ‘envolver cada família brasileira em um abraço de segurança e tranquilidade, garantindo bem estar hoje e sempre’. É muito melhor acordar de manhã pensando que este é o impacto que você irá causar no mundo do que pensar eu vou lá pra pagar os benefícios do mês”, afirmou. Ele explicou que contar com um propósito inspirador é um diferencial enorme do ponto de vista de atração e retenção de talentos. 

Outro ponto importante é ter clareza dos desafios, segundo Eduardo Carone, e refletir sobre aquilo que vem pela frente. “Não é o que passou, mas o que vem pela frente. É diferente de olhar para os desafios de dez anos atrás. O importante é olhar para os desafios do próximo ano, de dois ou cinco anos pra frente. Por exemplo, temos de enfrentar o desafio da estagnação das entidades fechadas, é difícil crescer com a concorrência dos fundos abertos”, apontou. Este é o momento para pensar e se reinventar em quais os tipos de produtos podem ser criados para que as empresas ofereçam benefícios para os funcionários. 

Ele defendeu que é preciso pensar em produtos que caibam no bolso e que sejam bons para os colaboradores da empresa. Quando se tem clareza no propósito e nos desafios, daí passamos para a pergunta sobre governança: quem serão os meus conselheiros? Mas não é indicado inverter. “Primeiro temos de definir o propósito e saber os desafios com clareza e daí vamos escolher os conselheiros. Geralmente, se faz o contrário, primeiro se escolhe os conselheiros para depois definir o propósito. Na verdade, é o contrário, primeiro o propósito para depois escolher conselheiros com os perfis e capacidades adequadas”, recomendou Carone. 

Gestão de tecnologia – Rodrigo Assumpção, Presidente da Dataprev, enfatizou a importância de mudar o foco em relação à tecnologia. “Não somos entidades de tecnologia. Somos condenados a gerenciar a tecnologia com criatividade, mas não é a nossa essência. A aposta deve ser em gestão de tecnologia”, disse. Neste sentido, o olhar deve estar voltado para a gestão tecnológica, não para as máquinas e equipamentos e nem para os processos e desenvolvimentos. 

“A cada ano há mudanças, novos processos, a cada dia há mudanças. Devemos repensar os processos para reestruturá-los”, alertou. Por isso, a área de classificação de dados, de informações, controle e governança dos processos tecnológicos são a base e a fundação para construir o resto. “Na discussão de tecnologia, é preciso colocar a governança de dados e de processos no centro, porque é isso que permitirá avançar nas parcerias, nos contratos, etc.”, defendeu o Presidente da Dataprev. 

Para ele, limitar o gasto tecnológico é uma tarefa vã e perdida. “O gasto tecnológico está condenado a crescer todos os anos. Por outro lado, o avanço em tecnologia é o fator que mais economiza recursos e mais corta custos”, explicou. Mas isso não ocorre no orçamento tecnológico, na sua visão. As empresas que lidam com tecnologia se dividem em dois grupos: aquelas que diminuem seus custos com investimentos em tecnologia e, portanto, avançam; e aquelas que diminuem seus custos de tecnologia, e ficam paradas, segundo Assumpção.

Com colaboração de Alexandre Sammogini

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