O Encontro Regional Centro-Norte, realizado nesta sexta-feira (04), deu continuidade à série de eventos promovidos por Abrapp, Sindapp, ICSS, UniAbrapp e Conecta. Pela primeira vez em formato 100% online e ao vivo, a série dos Encontros Regionais segue batendo recorde de público. O Encontro de hoje reuniu mais de 350 participantes no centro de eventos digital da Abrapp.
“Conseguimos implementar uma agenda estratégica para a previdência complementar fechada, chegar a um maior número de pessoas”, ressaltou o Diretor-Presidente da Abrapp, Luís Ricardo Martins, na abertura do evento, ao recapitular as ameaças e e as conquistas obtidas pelas entidades fechadas nos últimos cinco anos.
Ele destacou que, com ousadia e criatividade, o sistema conseguiu sair de um diagnóstico de estagnação e perda de interlocução com o governo brasileiro para um cenário de fomento com novas vertentes de crescimento, com a previdência complementar do servidor público, planos instituídos e planos famílias. Além disso, a previdência complementar voltou à pauta de prioridades governamental e conta com a atuação efetiva e estratégica do Conselho Nacional de Previdência Complementar.
Janelas de oportunidade – Luís Ricardo Martins ressaltou que o sistema tem novas janelas de oportunidade abertas pela Reforma da Previdência, como a ampliação da previdência complementar nos entes federativos e a conscientização de que cada vez mais a população terá que envidar esforços individuais para formar uma poupança previdenciária digna para o futuro. A crise gerada pela pandemia de COVID-19 reforçou a necessidade de as pessoas buscarem proteção social para si e seus familiares, vocação que está no DNA do sistema. O aporte recorde de recursos na caderneta de poupança, realizado pelos brasileiros no auge da crise, precisa ser transformado da “poupança do medo” para a “poupança da esperança”, por meio do fomento da previdência complementar.
Nesse sentido, o dirigente destacou a agenda estratégica defendida pela Abrapp para aproveitamento das atuais janelas de oportunidade do sistema, que incluem: a ampliação da inscrição automática, que hoje conta com apoio junto aos interlocutores do governo; o projeto de Lei de Proteção à Poupança Previdenciária (LPPP); ajustes na Resolução CMN nº 4.661, incluindo a flexibilização da questão imobiliária e de limites para investimentos no exterior; as propostas tributárias para ampliar o fomento e reduzir injustiças; e também o debate para alterações na Resolução CNPC nº 30, frente aos desafios estruturais gerados pela queda da taxa de juros e o aumento da longevidade.
A agenda inclui ainda a harmonização de diferenças entre entidades abertas e fechadas, que será tratada em projeto de Lei Complementar dentro da previdência complementar do servidor público; a operacionalização do CNPJ por Plano; o incremento de planos família; a importância dos canais de venda e comunicação e o desenvolvimento de novas soluções para as entidades por meio do centro de serviços compartilhados, a ser lançado brevemente pela Conecta.
Soluções tecnológicas – Com relação ao desenvolvimento tecnológico, o Diretor-Presidente ressaltou os problemas que o sistema vem passando na busca por soluções nessa área. “Fica aqui nosso compromisso do quanto estamos trabalhando para isso”, afirmou Luís Ricardo, ao citar iniciativas como o hackaton, organizado pela Abrapp em plena pandemia neste ano, reunindo mais de 400 profissionais do ecossistema de tecnologia e inovação.
“Temos o nosso HUPP!, o primeiro hub de previdência no País, que vai aproximar as startups das entidades. Estamos buscando soluções para atender as demandas tecnológicas das entidades – que não são poucas. Nós vamos encontrar a solução para esse problema do sistema. Estamos bem perto”, assinalou Luís Ricardo.
Representação regional – O Diretor Executivo da Abrapp, José Roberto Rodrigues Peres, responsável pela Regional Centro-Norte juntamente com o Diretor Amarildo Vieira de Oliveira, ressaltou a importância dos Encontros Regionais para o quadro associativo. Ele reforçou a oportunidade de interação das entidades com seus representantes junto a Abrapp, Sindapp, ICSS, UniAbrapp e Conecta, por meio da qual se pode construir soluções conjuntas. Peres sublinhou a importância da inovação para a previdência complementar chegar a mais pessoas, e a busca do Grupo Abrapp por soluções compartilhadas de tecnologia que auxiliem as entidades em seus processos de reinvenção e aprimoramento de processos, meta que tem mobilizado a Abrapp em diversas frentes de atuação.
Cenário Econômico e Desafios na Alocação
Mais volatilidade está no radar – Em mensagem institucional, Margot Greenman, CEO da Capitalys, agradeceu o apoio da Abrapp para ampliar junto às associadas o conhecimento da estratégia de private debt, utilizada pela gestora de crédito. “É uma estratégia que provê não somente rentabilidade atraente e consistente, mas que também está alinhada às melhores práticas de investimentos ESG, ao tratar de uma carteira pulverizada e diversificada de crédito sustentável a milhares de pequenas e médias empresas”, destacou a CEO. Ela ressaltou que essas características permitiram aos clientes boa performance de investimentos mesmo frente à pandemia de COVID-19, sem nenhum mês de rentabilidade negativa. Margot destacou que apesar da crise parecer próxima do fim, a companhia acredita que a volatilidade não irá embora. “Ao contrário, os ajustes econômicos e sociais resultantes desse momento serão fonte de outros momentos de volatilidade que ainda não estamos enxergando”, completou.
Amortização de riscos no longo prazo – Reforçando a importância da diversificação para amortizar riscos no longo prazo, o primeiro painel do Encontro Regional Centro-Norte foi dedicado à discussão sobre “Cenário Econômico e Desafios na Alocação”. Os convidados abordaram temas como o aprendizado com endowments; diversificação e modelo de gestão de fundos imobiliários; investimentos no exterior; e tecnologia para trazer consistência ao portfólio. A mediação ficou a cargo do Vice-Presidente da Abrapp e Presidente da UniAbrapp, Luiz Paulo Brasizza.
Brasizza informou que o atual cenário de taxa básica de juros baixa no País era esperado e muitas entidades já se prepararam para esse momento, que traz muitos desafios. Ele ressaltou a importância da discussão do painel em duas vertentes. Nos planos de Contribuição Definida (CD), as entidades estão sendo empurradas para o risco tanto por questionamentos dos assistidos, que estão vendo suas despesas com saúde aumentarem acima da inflação, e dos ativos que demandam por maior rentabilidade. E nos planos de Benefício Definido (BD), que respondem por 65% do R$ 1 trilhão de recursos geridos pelas entidades fechadas, há o desafio para o cumprimento das metas atuariais nos próximos anos.
As lições dos investidores americanos – Em sua apresentação, Adilson Donisete Ferrarezi, Superintendente de Soluções de Investimento da Bradesco Asset Management, ressaltou temas importantes a serem monitorados no campo de investimentos. Dentre eles, está: a evolução e logística de implementação da vacinação em massa contra a COVID-19; a mudança no framework de política monetária do Fed (banco central americano), proporcionando mais tempo de adaptação aos emergentes; as eleições presidenciais americanas; a recuperação das economias, ainda de forma heterogênea entre setores; e a situação fiscal do Brasil, que recentemente recebeu novos sinais positivos do governo em relação ao comprometimento com o controle dos gastos.
¨A única certeza que teremos daqui para a frente é que taxa de juros continuará baixa¨, ressaltou Ferrarezi. Fazendo paralelo com o cenário americano, que viveu de 1985 a 2019 a queda estrutural da taxa de juros, ele trouxe as lições dos endowments funds das universidades de Harvard e Yale, investidores de longuíssimo prazo que gerenciam cerca de R$ 60 bilhões. Frente à queda da taxa de juros estrutural ao longo dos anos, esses fundos realizaram gradualmente a sofisticação de sua alocação estratégica em produtos de risco e a internacionalização de seu portfólio.
Ele observou que a performance dos endowments ao longo das décadas mostra que mais de 90% resultados de longo prazo são decorrentes da combinação estratégica e estrutural de diversas fontes de risco, o que possibilitou a amortização de cenários negativos frente às diversas crises que chacoalharam o mundo. “Hoje a legislação brasileira permite às EFPCs se desafiarem e conhecerem fatores de riscos diferentes”, destacou Ferrarezi, acrescentando que essa transição deve ser gradual e considerar não só diferentes classes de ativos, mas também geografias e moedas, para retornos mais consistentes no longo prazo.
Fundos imobiliários – Bárbara Lombardi, Gestora de Fundo de Fundos da Rio Bravo Investimentos, destacou as oportunidades de diversificação com os fundos imobiliários, classe de ativos que experimentou grande crescimento nos últimos anos e mostrou-se resiliente a crises. Ela notou que, sob o aspecto de precificação, o IFIX – ¨Ibovespa¨ dos fundos imobiliários – tem acompanhado a evolução dos juros reais com duration de cinco anos. Em momentos de stress do mercado, essa classe apresentou historicamente ¼ de volatilidade em relação ao índice da Bolsa brasileira, mostrando sua resiliência.
Desde 2018, os fundos imobiliários cresceram cerca de 500% em número de investidores. Hoje a classe tem perto de R$ 105 bilhões em patrimônio líquido. São 270 fundos listados em Bolsa e mais de 500 registrados na CVM. A liquidez também cresceu, saindo de R$ 45 milhões diários negociados em 2018 para mais de R$ 215 milhões em 2020. Bárbara elencou os critérios que devem ser considerados na seleção desses fundos, especialidade da gestora Rio Bravo, abrangendo aspectos como a tolerância a risco, seleção de ativos e dos gestores e a diversificação do portfólio investido.
Com relação às perspectivas de mercado, ela observou a tendência de crescimento gradual de teses alternativas de investimentos frente às tradicionais (corporativos, shoppings e galpões logísticos), com o movimento de fundos monoativos para multiativos e desenvolvimento de segmentos como educacional, hoteleiro e residencial. ¨Contudo, ainda há concentração em classes de ativos tradicionais, em função da restrição de liquidez dessas teses alternativas, o que não permite ainda grandes alocações¨.
Investimentos internacionais – Daniel Castro, Gestor de Portfólios da Santander Asset Management, destacou o atual cenário de concentração de investimentos no Brasil, que representa uma gota no oceano global. “O Brasil representa 3% do PIB mundial. Será que vale a pena alocar 100% dos recursos no País, ignorando o oceano de 97% das oportunidades existentes?”, questionou.
Além da necessidade de diversificação geográfica, os investimentos no exterior também possibilitam mais opções de investimento setoriais. Citando como exemplo o índice brasileiro Ibovespa, ele notou que este está concentrado em bancos, empresas financeiras, commodities e empresas de consumo. Já o MSCI World, índice de ações de grandes empresas que atuam em países desenvolvidos, apresenta maior concentração nos setores de tecnologia e heatlhcare, que tiveram excelente performance frente à pandemia e apresentam boas perspectivas de crescimento em longo prazo.
O novo cenário econômico do País torna a diversificação para o longo prazo ainda mais necessária, observou Daniel. Ele ressaltou que em 2021 o Brasil terá um cenário inusitado, com projeção pela Santander Asset de inflação de 2,9% e taxa Selic em 2%. “De partida, sabemos que se deixarmos todos os recursos em LFT, sem riscos, teremos rendimento real negativo. Essa é a chamada para o aumento de risco nos portfólios para a busca de maior rentabilidade e a alocação no exterior vai proporcionar isso”.
Abordagem homem-máquina – Tomás Leme, RI da Pandhora Investimentos, gestora sistemática que utiliza inteligência artificial, explicou como a tecnologia pode trazer consistência aos portfólios de investimentos. Ele enfatizou que o cenário de juros baixos no mundo e no Brasil fará com que as entidades tomem mais risco, e a tecnologia pode auxiliar para alocações mais inteligentes e descorrelacionadas no longo prazo.
Tomás esclareceu que a abordagem quantitativa não limita a tecnologia aos processos, mas envolve a tomada de decisão da alocação de risco com o uso sistemático do computador. Hoje 7 dos 15 maiores hedge funds do mundo já fazem uso intensivo de tecnologia, seja de forma mista ou 100% quantitativa. ¨Nos últimos anos, esses gestores vêm crescendo através do uso da tecnologia para alocação em diferentes estratégias, países e compra de carteiras muito diversificadas¨, ressaltou. Ele acrescentou que esse aspecto, aliado à descorrelação e foco no longo prazo (pelo menos 36 meses), permite a geração de índices de sharpe maiores que a média do mercado. Na Pandhora, a tomada de decisão com tecnologia é acompanhada por uma profunda análise dos fundamentos dos ativos, dentro do conceito de Quantamento.
“Nossa provocação aqui é que vocês comecem a olhar os fundos que estão utilizando tecnologia. Estranhem os gestores que não estão falando de uso de tecnologia na gestão”, ressaltou o executivo, observando que hoje a maioria das pessoas já faz investimentos utilizando o celular, mas muitos gestores ainda não atualizaram sua forma de gestão. “É importante começar a investir nesse tipo de fundo. Sempre inicie com uma parte pequena para começar a ganhar familiaridade com essa forma de investir e, aos poucos, deixar isso crescer para uma parte maior do porftólio”, recomendou.
O crescimento dos planos instituídos, setoriais e família tem sido o principal fomentador do segmento de previdência complementar fechada. Diante disso, a busca por inovação e sustentabilidade dos negócios se torna inerente. O tema foi debatido durante o segundo e terceiro painel do Encontro Regional Centro-Norte, que focou em tecnologia, aspectos ASG e ética. Leia mais.
O último painel do Encontro Regional Centro-Norte contou com apresentações e debates com as autoridades da Previc e do Ministério da Economia. Com o título de “Sustentabilidade de planos frente à crise e o futuro da Previdência Complementar”, o painel contou com participação do Diretor Superintendente da Previc, Lúcio Capelletto, do Subsecretário do Regime de Previdência Complementar, Paulo Valle, e do Coordenador Geral de Fiscalização Direta da Previc, Maurício Aguirre Nakata. Um dos destaques foram as informações mostradas pelos representantes da autarquia que apontam que os resultados de déficits e superávits dos planos já retornaram a um nível bastante próximo ao período pré-crise. Veja a matéria completa.
Os Encontros Regionais contam com o patrocínio de: Giant Steps Capital, Bradesco Asset Management, Pandhora, Rio Bravo, Santander Asset Management e Captalys. O evento tem o apoio da Mapfre Investimentos e da Franklin Templeton.