Falar de inovação é falar de futuro no presente. Foi assim que iniciou o segundo painel do Encontro Regional Nordeste, realizado nesta quarta-feira, 9 de setembro, pela Abrapp, Sindapp, ICSS, UniAbrapp e Conecta, e transmitido por meio do centro de eventos digital do Grupo. Com o tema ”O Sistema Focado em Inovação e Economia Compartilhada”, o painel destacou que o sistema escolheu o caminho de avançar na área dos planos famílias e setoriais, e isso implica em mudanças na sua forma de atuar, se comunicar e gerir recursos. “Assim, os fundos sistemáticos e intensivos em tecnologia e big data ajudam na escolha de ativos e se adequam a essa nova realidade”, destacou Guilherme Velloso Leão, Presidente do ICSS e moderador do painel.
Nesse sentido, Rodrigo Terni, Co-fundador e Co-CEO da Giant Steps Capital, apresentou a importância do uso da tecnologia no processo de tomada de decisão dos investimentos por parte das gestoras. “O gestor melhor informado vai tomar as melhores decisões, mas ele deve filtrar entre o que é melhor”, disse. Na execução da tomada de decisão, os riscos devem ser gerenciados, e o mais importante para o gestor é a etapa de pesquisa. “A forma de receber informação mudou completamente, e se o gestor não se adequar, não estará bem informado”, alertou Terni.
Assim, a velocidade em que a informação chega ao gestor influencia nesse processo, e isso pode ser aprimorado por meio da tecnologia. “Todos os gestores vão utilizar a tecnologia para transformar dados brutos em dados fabricados, ou únicos”, ressaltou. Terni deu ainda exemplos de como a tecnologia ajuda a antecipar alguns fatores para que os gestores tomem também decisões antecipadas. “A tendência é que seres humanos se juntem e, em equipe, sistematizem a informação. Isso traz mais segurança e, quando falamos em investimento, estamos falando em segurança. Consistência é tudo”.
Ele ressaltou que atualmente as operações das gestoras ainda são muito manuais, concentrando 40% da equipe na parte operacional, enquanto 10% estão focados em risco e 30% em gestão. “Em 10 anos, a tendência é que a gestão seja dividida em duas partes, com 40% de concentração em pesquisa e 40% e tecnologia. Já a parte de risco será reduzida para 4%, pois estará inerente no processo de gestão e será auto-executada. Se você não usa tecnologia para entrar e sair do mercado, a sua chance de tomar as melhores decisões é muito baixa, praticamente nula”, reforçou Terni, explicando ainda como a Giant Steps Capital utiliza tecnologia em todo seu processo de tomada de decisão e gestão, impactando diretamente na performance de seus fundos. “É possível criar estratégias totalmente diferentes utilizando tecnologia”, complementou.
Inovação nas EFPCs – Do ponto de vista de inovação na gestão das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC), Claudia Regina Janesko, Superintendente Executiva da Conecta, fez uma apresentação sobre a jornada em direção à economia compartilhada. “O primeiro pilar fundamental para essa jornada é a disrupção, quando se rompe um modelo ou padrão. E a mudança de mindset do ponto de vista organizacional precisa ter o patrocínio da alta gestão das entidades”, reforçou Claudia.
Já o segundo pilar dessa jornada apresentado por Claudia é a tecnologia. “Dentro desse escopo amplo, chamo atenção para a tecnologia digital, que é fundamental em nossos processos de inovação e nos ajuda a fazer as transições necessárias”. Ela destacou que a busca pela tecnologia não é pelo uso dela em si, mas sim como um meio de sanar os problemas do sistema, ressaltando que além da tecnologia, é preciso de habilidades comportamentais para lidar com essas mudanças. “Assim, se chega num novo modelo de negócios”.
Mas essas mudanças são impulsionadas pelo binômio solução x inovação, e segundo Claudia, não adianta falar e não fazer, planejar e não executar. Ela contou ainda como o sistema está agindo dentro desse contexto através do Hupp, primeiro hub setorial da previdência privada, que promove conexão, colaboração e compartilhamento de ideias e soluções. “O Hupp é um projeto patrocinado pela Abrapp, com execução e gestão administrativa da Conecta e apoio técnico da LM Ventures, e é um grande laboratório de desenvolvimento de soluções tecnológicas para o nosso ambiente”, diz. Saiba mais sobre o Hupp.
Hub setorial – O objetivo do Hupp é colocar as entidades mais próximas do ambiente de inovação. Assim, Magnus Arantes, Diretor da LM Ventures, explicou como o conceito de economia compartilhada e hub setorial se encontram. Ele cintou exemplos sobre a evolução da sociedade para o comércio e, posteriormente, para a economia compartilhada, onde a troca de ideias proporciona uma capacidade de criação muito grande no mundo digital. “Assim, juntando várias empresas do mesmo setor, conseguimos compartilhar ideias para esse setor e, assim, criar soluções”, disse.
Magnus destacou que o Hupp conta com a expertise da Abrapp, que já tem mapeadas as necessidades do setor, o que facilitou o processo de busca pelas soluções direcionadas ao sistema. “Estamos começando o projeto e juntamos 11 entidades pioneiras para trabalhar com 17 startups“, explicou, reforçando que além de mapear as dores das EFPCs, durante o processo, novos modelos e abordagens devem se desenvolvidas e, posteriormente, disseminadas através da Conecta.
Assim, o modelo do Hupp visa diminuir o risco do sistema, explicou Magnus. “A partir do momento em que uma entidade testa uma solução, temos uma Prova de Conceito (POC) para ver se ela funciona para que, depois, mais entidades possam adquiri-la dentro da sua realidade. Isso não dá 100% de certeza, mas é uma maneira de minimizar os riscos para poder escalar a solução”, contou.
Sustentabilidade – Sustentabilidade e ética também estão no cerne das discussões das EFPCs e foram debatidas no terceiro painel do dia, com o tema “Muito Além de Tendência: Gestão de Investimentos com Foco em ASG, Integridade e Ética”, moderado por José de Souza Mendonça, Diretor-Presidente do Sindapp. “O Índice ASG dá uma transparência aos investidores sobre as empresas nas quais estão investindo, e hoje cada vez mais a sustentabilidade do mundo é importante”, destacou na abertura do painel.
Em seguida, Marcelo Coelho de Souza, Chefe de Gabinete da Previ, ressaltou que a letra I de Integridade faz parte do eixo ASG e afirma que as EFPCs devem estar no centro dessa agenda. “Sustentabilidade é um negócio de longo prazo, intertemporal, com decisões tomadas com impactos durante longo tempo, e visa a longevidade, envolvendo às vezes o sacrifício de um determinado consumo ou facilidade, visando chegar mais adiante”. Diante dessas características semelhantes às das EFPCs, os negócios são praticamente intrínsecos, reforçou Marcelo Coelho. “Temos um dever com a sustentabilidade, cumprindo também um dever fiduciário para com o participante, que busca retorno no longo prazo” destacou.
Ele disse ainda que, apesar da busca por rentabilidade muitas vezes se sobressair à sustentabilidade, não existe mais essa dicotomia, pois a rentabilidade já é pautada por investimentos sustentáveis, e os risco ASGI já são medidos dentro da economia. “As empresas devem estar preparadas para isso, pois já está impactando o seu negócio”, disse. “Se você está atrás de rentabilidade, deve buscar os eixo ASGI”, enfatizou.
Contudo, ele avaliou que há necessidade de se ampliar o debate sobre esses temas, questionando se o sistema de previdência complementar não poderia desenvolver suas próprias métricas para medir o impacto dos aspectos ASGI em seus negócios. “Juntos, podemos aferir melhor esses impactos e assumir um protagonismo, passando essa mensagem para o mercado”, destacou Coelho, ressaltando que a adoção dessas práticas levam para um dilema ético. “Como vou cobrar de uma empresa investida esses aspectos se eu não adoto?”.
Marcelo Coelho compartilhou como a Previ fez a adoção dessas práticas não somente nos investimentos, mas também com a criação de um comitê de sustentabilidade, que é composto por todas as áreas da entidade. “A questão da sustentabilidade não é exclusiva dos investimento. ASGI é transversal e atinge todas as áreas. É importante praticar antes de explanar”. Marcelo Coelho citou ainda que há situações em que as entidades devem adiar um pouco sua rentabilidade no curto prazo para estar na agenda ASGI, cumprindo com o dever fiduciário e pensando na sustentabilidade dos investimentos.
Segundo ele, apesar de não haver uma vasta variedade de fundos sustentáveis disponíveis no mercado, as entidades devem entender os impactos que essas questões geram nos investimentos para preparar a rentabilidade para esse mundo que chega. “Os gestores devem, em um negócio de longo prazo, enxergar como isso vai influenciar hoje para gerar valor no futuro. Essa agenda não é imediatista, mas nossa responsabilidade é de olhar para os efeitos lá na frente”, complementou.
Ética – A sustentabilidade deve fazer parte do modelo de negócios estratégico das empresas, e na visão de Liane Câmara Matoso Chacon, Diretora responsável pela Promoção da Ética do Sindapp, a responsabilidade dos dirigentes e conselheiros das EFPC é cada vez maior nesse contexto. “O futuro depende do trabalho sustentável do que fizermos hoje”. Ela conduziu um debate sobre ética com Aparecida Ribeiro Garcia Pagliarini, Coordenadora da Comissão de Ética do Sindapp.
Durante o debate, Aparecida destacou que valores e princípios têm se mantido ao longo dos anos, mas a ética sempre influenciou o agir do ser humano, não isoladamente, mas coletivamente. “A ética extrapola gerações, e a sustentabilidade é a verdadeira responsabilidade entre gerações. Quando nos responsabilizamos por investimentos sustentáveis, estamos também agindo de forma a preservar futuras gerações”.
Ainda no debate, Liane disse que somente uma mudança nos valores coletivos pode impulsionar e promover a sustentabilidade. “Se as empresas que geram impactos positivos criam um ciclo virtuoso, qual é a participação das EFPCs nos conselhos de empresas?”, questionou Liane. Na visão de Aparecida, o papel dos investidores institucionais é importante dentro de vários segmentos e resultados. “Eles têm peso no direcionamento da economia e na sustentação de segmentos dentro do país, e não devem abdicar da sua participação nas empresas investidas. Se a empresa não está seguindo critérios adequados para o investimento sustentável, o investidor deve permanecer para influenciar nas decisões de longo prazo desta empresa”.
Liane destacou que através de atos responsáveis é possível garantir a preservação do planeta. “Sustentabilidade e ética é uma aproximação necessária, e muito além de tendência, esse tema é uma necessidade”, finalizou Liane. José Mendonça complementou dizendo que é preciso harmonizar esse assunto. “Se hoje eu preciso buscar sustentabilidade junto com rentabilidade, preciso harmonizá-las para que uma coisa não prejudique a outra e ambas possam se sustentar, e isso pode ocorrer através da educação financeira e previdenciária”.
Confira a cobertura completa do Encontro Regional Nordeste:
- Engajamento das associadas para retomada do sistema é destacado no Encontro Regional Nordeste
- Regional Nordeste: Perspectivas positivas para o crescimento da Previdência Complementar Fechada
Os Encontros Regionais contam com o patrocínio de: Giant Steps Capital, Bradesco Asset Management, Pandhora, Rio Bravo, Santander Asset Management e Captalys. O evento tem o apoio da Mapfre Investimentos e da Franklin Templeton.