Avanços e desafios na adoção de critérios ESG nos investimentos são debatidos em webinar

A evolução do tratamento dos aspectos sociais, ambientais e de governança (ESG, na sigla em inglês) dentro dos investimentos no Brasil e no mundo foi destacada em webinar promovido pela Tamer Comunicação com o título “ESG – Boas práticas corporativas que mudam o ambiente dos negócios e dos investimentos”. Transmitido pelo Instagram e pelo YouTube, o evento online está disponível na íntegra no canal da Tamer.

O jornalista Theo Carnier mediou o painel, que contou com a participação de especialistas para debater sobre o assunto. Entre eles está o Diretor Presidente da Abrapp, Luís Ricardo Martins, que disse que a sigla ESG tem cada vez mais peso na tomada de decisão de investimentos. “Trata-se de uma questão primordial que integra os negócios e afeta positivamente os investidores”, disse, reiterando que os gestores de carteiras de Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) naturalmente estão sensíveis à temática.

Luís Ricardo citou o momento de queda abrupta da taxa de juros, temor fiscal, longevidade e perspectiva de alta da inflação, o que faz com que cada vez mais os gestores busquem risco para atingir a rentabilidade e bater meta atuarial das entidades. “A gente sabe que investimento sustentável mitiga riscos”, reiterou.

Ele destacou a característica de longo prazo da previdência complementar fechada, com transparência. “Esse segmento é o único veículo de poupança de longo prazo no país que, em especial, nesse momento de pandemia, precisa cada vez mais de incentivos para seu incremento na busca por maior rentabilidade”, disse.

Diversificação – Luís Ricardo destacou o momento virtuoso do sistema, com a reversão do déficit para um superávit acima de R$ 8 bilhões. “Profissionalismo, estratégia de longo prazo e diversificação são palavras de ordem. E diante desse cenário, o tema da sustentabilidade ganha mais destaque com reconhecimento que esses aspectos sociais, ambientais e de governança trazem grandes oportunidades, gerando retornos sustentáveis com melhor gerenciamento do risco”, pontuou.

Ele também citou o perfil do jovem trabalhador que está integrando os planos de previdência e que é uma geração mais consciente e que cobra posicionamentos efetivos dos investimentos na linha da sustentabilidade. “O processo educacional do próprio mercado, a comunicação entre investidores e empresas investidas e a metodologia de avaliação ainda são os pontos de grandes desafios que o sistema enfrenta”, disse, citando que a Abrapp vem promovendo inúmeras iniciativas para esse engajamento, incluindo o tema em seu Planejamento Estratégico.

Luís Ricardo destacou a profissionalização do sistema fechado de previdência, se blindando a partir de processos de certificação e capacitação, lembrando que o segmento já capacitou mais de 12 mil alunos por meio da UniAbrapp e certificando mais de 8 mil pessoas pelo ICSS. “O sistema precisava ter essa roupagem, e hoje os critérios são tratados no ambiente de nossos Códigos de Autorregulação”, disse citando os Códigos de Autorregulação em Governança de Investimentos e Governança Corporativa do Sistema Abrapp.

Ele citou ainda pesquisa da Previc sobre utilização desses critérios por parte das EFPC na qual 93 participaram. A pesquisa buscou verificar se as fundações utilizam esses critérios na tomada de decisão, e se não utilizam, qual o motivo. Os resultados mostraram que 85% das Entidades Sistemicamente Importantes (ESIs) utilizam os critérios ESG nas análises de riscos, e por outro lado as 51% das não ESIs também utilizam esses critérios em suas análises.

Entre os principais motivos para utilização dos critérios estão as demandas de participantes e de patrocinadores, o desempenho dos ativos selecionados a partir desses critérios, a demanda da regulação, entre outros. Já quem não utiliza aponta que a frequência de divulgação das informações ESG são insuficientes, a qualidade dos dados precisa ser melhorada, além de haver dificuldade de comparar informações. “Esse é um amplo processo de capacitação, educativo”, disse.

Luís Ricardo reforçou que a sustentabilidade e transparência estão no DNA dos investidores institucionais de longo prazo, mas a busca é contínua. “Esse é um tema sem volta. É impossível a gente não enfrentar esse tema e adotá-lo efetivamente”, disse.

Governança – Presente no debate, o Presidente Executivo da Amec, Fábio Coelho, disse que o posicionamento de como o ESG transforma o mundo dos negócios deve começar pela estratégia, e quem exercita a estratégia no mundo corporativo é o Conselho e a Diretoria. “Para um bom desenvolvimento do ESG nas corporações, os gestores e líderes devem estruturar seus processos de trabalho para, de fato, fazer as coisas acontecerem nas instituições”, pontuou.

Ele destacou as oportunidades da evolução da pauta ESG, especialmente no mundo financeiro. Ele ressaltou que nem todo mundo percebe a dinâmica dessas mudanças, que são estruturais e desafiam os executivos a tomarem decisões estratégicas. “O que muda é a velocidade com que tudo isso está acontecendo”, pontuou.

O CEO da Gui Athia & Partners, Guilherme Athia, disse que o que vai mudar o mundo é a governança, a decisão, e que por enquanto ainda existe uma decisão voluntária sobre os parâmetros e indicadores escolhidos, mas que isso deve mudar, citando como exemplo a União Europeia, que já está na terceira revisão, em 6 anos, de um relatório não financeiro que foi renomeado para relatório de sustentabilidade. “Isso é um marco”, pontuou.

Nessa terceira versão do relatório, as 11 mil empresas do bloco deverão ser obrigadas, a partir de 2023, a fazer um report de sustentabilidade com mesmas características do balanço financeiro. “Então, o Conselho passa a ter uma posição diferente. Até então ele e a Diretoria tem autonomia, e começa a passar uma fase que ele tem uma obrigação fiduciária”, pontuou Athia.

Investimentos sustentáveis – Mostrando um case de desenvolvimento de produtos baseados nos critérios ESG, o CEO da Integral Brei, Vitor Bidetti, contou sobre a iniciativa de sua gestora, que é especializada no segmento imobiliário, de crédito estruturado e de infraestrutura. “A gente acha que é dever fiduciário de qualquer gestor aperfeiçoar suas técnicas de gestão”, disse.

Buscando desenvolver produtos com mais qualidade, a gestora lançou seus fundos. “Alguns anos atrás, mudamos a governança do grupo, mudamos estatuto a partir dos compromisso assumidos com o PRI, CDP e com o Pacto Global da ONU”, disse. Bidetti explicou toda a técnica de desenvolvimento do produto, incluindo a necessidade de ter uma empresa independente que analise as emissões para avaliar se são ou não ESG. “Esse tema deixou de ser uma tendência e passou a ser mandatório. É um caminho sem volta”, reiterou.

Greenwashing – O debate abordou ainda a questão do greenwashing, que trata da apropriação de virtudes ambientalistas por parte de organizações ou pessoas com um foco mais voltado ao marketing. Fábio Coelho destacou que essa é uma consequência de um mercado que ainda está se desenvolvendo, destacando três grupos de players que estão aprendendo a lidar com ESG: os que já praticavam e integravam essas informações na tomada de decisão; o grupo que espera a regulação começar a fazer as primeiras exigências; e os que estão participando dessas discussões porque o cliente está demandando.

Fábio reiterou que mesmo diante das diferenças desses grupos, todos avançam nessas discussões. Ele mencionou ainda que tudo passa por um processo de aprendizado. “Não é demérito para nenhuma grande instituição hoje no Brasil reconhecer que existe um caminho”, disse, reiterando que a governança é importante para que internamente essas questões sejam abordadas. “Tem um dever de casa, e o fato de sinalizar isso para o mercado já é uma boa prática. O mercado percebendo que genuinamente as companhias estão querendo fazer essa migração, é algo muito positivo”.

Fábio reiterou que os líderes de hoje devem estar com o olhar no futuro, não apenas observar o estágio em que o assunto está hoje. “Estamos falando em transformações em diversas indústrias”.

Guilherme Athia reforçou que a informação está disponível para investidores, consumidores, e para todos. “CEOs e Conselhos, tentem incluir todos os stakeholders em suas decisões, porque isso é fator determinante para seu crescimento no curto e no longo prazo”, aconselhou.

Shares
Share This
Rolar para cima