Durante apresentação no evento “Conexão ESG”, promovido pela SulAmérica Investimentos nesta quinta-feira, 10 de junho, o Diretor Presidente da Abrapp, Luís Ricardo Martins, reafirmou que o setor de Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) está alinhado com os princípios sociais, ambientais e de governança em seus investimentos. O dirigente participou do painel “Sustentabilidade e Finanças”, ao lado de Denísio Liberato, Diretor de Participações da Previ; Guilherme Benites, Sócio-Fundador da Aditus, e de Marcelo Mello, Vice-Presidente de Vida, Previdência e Investimentos da SulAmérica.
O webinar reuniu diversos especialistas sobre os fatores ESG (do inglês, enviromental, social and governance ou ASG em português), e contou com a abertura do Presidente da SulAmérica, Ricardo Bottas. Ao longo do período da manhã, eles debateram a integração de tais práticas na gestão de investimentos e os impactos da agenda climática no Brasil e no mundo. “Os investimentos ASG hoje são sinônimo de transparência e credibilidade no longo prazo e, por isso, coincidem com nosso perfil, com a nossa missão de acumular e pagar benefícios com uma poupança previdenciária”, disse Luís Ricardo.
Em um cenário de patamar reduzido dos juros e aumento crescente da longevidade, o Diretor Presidente da Abrapp disse que as EFPC enfrentam a necessidade de ampliar o nível de exposição de risco nos investimentos. Por isso, é fundamental adotar políticas que ajudem a promover a mitigação dos riscos das carteiras. “Quando falamos de investimentos responsáveis, estamos falando de uma melhor mensuração dos riscos para promover sua mitigação”, comentou. Nesse sentido, defendeu que os aspectos ASG ganham cada vez maior relevância no momento atual.
Na abertura do painel, Marcelo Mello lembrou que a Resolução CMN 4.661/2018 instituiu a necessidade de observância dos riscos sociais e ambientais nos processos de formulação das políticas de investimentos e tomada de decisões das fundações. “Foi uma grande evolução das regras para os investidores neste tema”, disse o Vice Presidente da SulAmérica em relação à resolução. Ele lembrou que a Previ há muito tempo se tornou signatária do PRI – Principles for Responsible Investments – da Organização das Nações Unidas e que até hoje permanece como modelo no setor. A própria SulAmérica aderiu como signatária do documento da ONU.
Em sua exposição, Denísio Liberato lembrou que a Previ participou em 2005 do grupo “fundador” de 20 investidores institucionais globais que definiram os princípios norteadores do PRI. A EFPC era a única representante latinoamericana que, logo após a aprovação do documento, aderiu como signatária em 2006. Ao longo dessa trajetória nos últimos 15 anos, a Previ tem alinhado cada vez mais suas práticas de investimentos com o conceito de capitalismo de stakeholders, que ganhou força nos últimos anos em diferenciação ao capitalismo de shareholders das décadas de 1960 e 1970.
Comentou ainda que a Previ incorporou às três letras mais tradicionais do ASG uma quarta letra, formando o novo conceito de ASGI – sendo a última em referência à integridade das empresas investidas. Com isso, a entidade procurou fortalecer o conceito de governança, desmembrando no termo tradicional e na integridade mais relacionada à gestão ética e de combate à corrupção nas companhias que contam com investimentos da Previ.
Dificuldades com as métricas – Guilherme Benites, Sócio-Diretor da Aditus , explicou que a utilização dos fatores ASG vem crescendo fortemente, dando como exemplo, o período de elaboração das políticas de investimentos das EFPC para 2021. “Foi no ano passado que vimos uma grande valorização da consciência de contar com algo de ASG nas políticas para este. Percebemos o aumento do desejo de incluir algum tipo de critério social ou ambiental”, comentou o consultor.
Apesar desse movimento das fundações, Benites apontou a dificuldade da utilização de métricas padronizadas e eficazes para quantificar os critérios ASG nos investimentos. “Não tenho visto ainda nada eficaz para quantificar esses critérios, que até agora são muito mais qualitativos”, comentou. O Sócio da Aditus elogiou o modelo da Previ que tem grande capacidade de estrutura e equipe para analisar o tema em suas políticas e diversas áreas, mas que, porém, a maioria das EFPC de pequeno e médio portes não possuem a mesma estrutura.
Guilherme Benites disse ainda concordar com o Diretor Presidente da Abrapp na questão dos investimentos com horizontes de longo prazo e na importância de olhar a questão ASG com mais atenção. “Somos corredores de maratona, de longo prazo, e o ASG deve ser um fator intrínseco ao nosso setor. Temos todo interesse em colaborar com o investidor para cobrar dos gestores a aplicação de tais critérios. Tenho 100% de convicção que é um caminho sem volta”, comentou.
Novas gerações – Luís Ricardo destacou que a Abrapp tem priorizado a utilização e desenvolvimento de ferramentas de stewardship (engajamento) e de utilização de fatores ASG em linha com seu planejamento estratégico para o triênio 2020-2022. Ele comentou que as associadas também estão em um processo de maior valorização e integração desse tema nas áreas de gestão de investimentos e que isso é impulsionado por uma demanda dos próprios participantes, sobretudo os mais jovens.
“São as novas gerações que cobram investimentos mais responsáveis. Se quisermos atrair esse novo público, esses novos trabalhadores, é fundamental promover a mudança do mindset das lideranças”, disse Luís Ricardo. Neste sentido, a Abrapp tem reforçado a importância do tema em várias de suas frentes de atuação, seja nos Códigos de Autorregulação ou nos Guias de Boas Práticas. Ele citou os Código de Governança Corporativa, o Código de Governança de Investimentos e o Guia de Sustentabilidade, como alguns exemplos de documentos que incluem o ASG em seus princípios e orientações.
O Diretor Presidente citou também o manual de seleção de gestores externos como outro exemplo, em linha com a Resolução 4.661/2018. como projeto futuro, falou ainda da elaboração de um Guia de melhores Práticas para os FIPs – Fundos de Investimentos em Participações. Ele não deixou de destacar o aumento do profissionalismo na gestão dos recursos das EFPC e os bons resultados do setor em 2020, mesmo em um ano marcado pela pandemia.
Ressaltou a reversão de um déficit de cerca de R$ 70 bilhões em março do ano passado para encerrar o ano de 2020 com um superávit agregado de mais de R$ 8 bilhões. E um dos destaques neste ponto, foi o desempenho da Previ, que no mês de abril de 2021, acumula superávit de mais de R$ 21 bilhões no Plano 1 de benefício definido (leia mais).