Encontro Regional Leste discute avanços em sustentabilidade, ética, tecnologia e inovação

Os avanços na discussão sobre sustentabilidade e inovação dentro das Entidade Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) foram temas centrais do Encontro Regional Leste nesta quinta-feira, 3 de setembro, promovido por Abrapp, Sindapp, ICSS, UniAbrapp e Conecta no centro de eventos digital do Grupo Abrapp, em formato 100% on-line e ao vivo.

O painel “Muito Além de Tendência: Gestão de Investimentos com Foco em ASG, Integridade e Ética” abordou como os princípios Ambientais, Sociais, de Governança e Integridade (ASGI) e a Ética dão maior transparência sobre os investimentos, além de colocar os investidores institucionais dentro de sua responsabilidade e dever fiduciário para com seus participantes. O moderador do painel José de Souza Mendonça, Diretor-Presidente do Sindapp, reforçou que educação financeira e previdenciária devem ser a base para se discutir esses temas.

Para Marcelo Coelho de Souza, Chefe de Gabinete da Previ, o sistema de previdência complementar fechada deveria definir suas próprias métricas para medir se esses princípios estão sendo respeitados dentro de seus investimentos. “Precisamos estar nessa agenda, é muito mais que uma obrigação, é o cumprimento do dever fiduciário para com o nosso participante, e é importante a gente se reunir mais e criar essas métricas”, disse.

Ele ressaltou que as EFPC devem estar dentro desse tema, pois os princípios ASGI visam sustentabilidade e investimentos responsáveis. “Sustentabilidade é um negócio intertemporal, onde decisões que são tomadas hoje têm reflexo durante um tempo. Ela visa a perenidade, e quando olhamos para a previdência, vemos que é um negócio de longo prazo e intertemporal, que visa também a longevidade. Quem é previdente, é ético e responsável. Temos quase R$ 1 trilhão na economia e estamos em todos os segmentos da economia. Além disso, a rentabilidade hoje é fortemente impactada pela sustentabilidade”, complementou.

Segundo ele, ainda não há um consenso sobre como medir a questão do impacto dos eixos ASGI na rentabilidade das entidades, e aí surge a importância de se criar métricas para o sistema. “Me parece que a nossa obrigação é olhar o risco ASGI e ponderar esses aspectos na rentabilidade. Devemos discutir cada vez mais o tema e tracionar essa agenda, assumindo um protagonismo”, ressaltou Marcelo.

Ele contou ainda sobre a experiência da Previ, que aplicou uma política de sustentabilidade não somente para os investimentos, mas também estabelecendo princípios. “Esse assunto está no RH, na seguridade e no relacionamento com o participante, pois tudo isso é impactado pela questão ASGI”. Marcelo destacou movimentos feitos na carteira das entidades voltados a investimentos responsáveis e o impacto prático que isso tem em rentabilidade e eficiência.

​Ética – ​Liane Câmara Matoso Chacon, Diretora responsável pela Promoção da Ética do Sindapp, disse que a sustentabilidade é um imperativo mundial, além de fazer parte da responsabilidade fiduciária das EFPC. “Na longevidade, temos esse dever fiduciário, além do objetivo do fundos de pensão, que é pagar benefícios aos participantes”. Ela conduziu debate sobre o tema com Aparecida Ribeiro Garcia Pagliarini, Coordenadora da Comissão de Ética do Sindapp.

Questionada sobre se os investimentos estão preparados para serem orientados pelos princípios ASGI, Aparecida afirmou que ainda não, mas o mundo todo está vivendo uma nova tendência e necessidade de mudar a maneira de pensar. “Ética tem a ver com o agir. Para mudar comportamento, é preciso mudar o modo de pensar, e essa mudança ocorre no pensamento coletivo”.

Segundo ela, os princípios ASGI extrapolam o indivíduo. “É preciso preparar um conjunto de tribos para que assimilem essa nova necessidade”. Aparecida reforçou a necessidade da integridade para incorporar esses entendimentos e ressaltou que a preocupação atual vai além de projetos individuais, afetando a vida no planeta. “O prefixo bio, que significa vida, é incluído em diversos aspectos. Será que não estamos entrando na era dos bio-investimentos”?, questionou.

Aparecida disse ainda que as empresas precisarão olhar para essas questões, e os Conselhos Deliberativos, de Administração ou Consultivos têm se dedicado com muita frequência a olhar para princípios ASGI. “Investidores e consumidores cada vez mais cobrarão as empresas sobre esse tipo de posicionamento”. Além disso, Aparecida ressaltou que a B3 está revendo as metodologias do seu Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) para torná-lo mais transparente, e ao aderirem à abertura de capital, as empresas necessariamente terão que adotar esses critérios. “Precisamos, agora, instalar um bom processos de comunicação nas entidades para que esse assunto seja tratado dentro da sua importância, pois cultura não se constrói da noite para o dia”, complementou.

Liane Chacon destacou que quem melhor se preparar hoje chegará melhor no amanhã, e nisso está a necessidade e importância desses princípios. “Esperamos que essa consciência esteja cada vez mais presente. Precisamos lembrar que administramos sonhos”, disse. Liane reforçou ainda a necessidade de se rever a importância das práticas e o papel relevante que a ética tem no mercado de previdência complementar fechada. “A ética, assim, é um pilar forte que sustenta rentabilidade e sustentabilidade. Na Comissão de Ética da Abrapp, estamos tentando tornar nosso sistema mais sustentável”, complementou.

Inovação – A discussão sobre tecnologia e inovação também permeou o Encontro Regional Leste. ​Moderando o painel “Sistema Focado em Inovação e Economia Compartilhada” , Guilherme Velloso Leão, Presidente do ICSS, destacou a importância da reflexão sobre criatividade e inovação. “Temos questões relacionadas a fundos mais baseados em dados para tomada de decisões ágeis e busca de oportunidades no mercado e, ao mesmo tempo, reflexões essenciais para as EFPC na medida em que se busca novos mercados e modelos de negócios”, disse.

Em pesquisa realizada durante o Encontro com os participantes representantes das entidades da Regional Leste, 57% disseram estar se adaptando e organizando sua entidade em termos de inovação, enquanto 39% intensificaram o uso da tecnologia para pandemia, mas acreditam que precisam avançar ainda mais no tema. “A pandemia foi, sem dúvida, um impulsionador desse processo de repensar inovação dentro das entidades”, reiterou Guilherme.

Economia compartilhada e hub setorial – Para o sistema tomar uma decisão, contudo, todas as fundações buscam avançar nos planos famílias e setoriais, e isso é uma decisão estratégica. Claudia Regina Janesko, Superintendente Executiva da Conecta, abordou como a inovação e a economia compartilhada andam juntas para que nesse sentido de aprimorar o sistema, soluções sejam encontradas e beneficiem a todos. “Precisamos que a disrupção faça parte da nova cultura, promovendo uma mudança de mindset. Já o escopo de tecnologia é amplo, e quando falamos de transformação tecnológica, falamos de uma transformação de processos e métodos”.

A transformação digital é fundamental no processo de inovação e construção do novo, reforçou Claudia, e dentro das diversas conversas sobre o tema, ela chamou a atenção que ferramenta tecnológica é meio, e não o fim. “Dentro disso, é importante olhar habilidades comportamentais, criatividade, adaptabilidade e abertura para o novo são características fundamentais”.

Nessa jornada, há a soluções e há a inovação, e pautado nessas duas palavras, o ambiente associativo fez um movimento fundamental: ação. “Nesse movimento, a Abrapp faz um trabalho fundamental para auxiliar nosso ambiente, pois o que nos trouxe até aqui não nos levará adiante, e por isso precisamos nos aproximar das startups”. Diante dessa necessidade, foi concebido o projeto do Hupp, que conta com 11 entidades parceiras e 17 startups já selecionadas para formarem um grande laboratório de soluções. “O Hupp é um espaço de conexão, onde um grupo de entidades, juntas, trabalham na busca de soluções não somente para si, como para todo o ambiente”, disse Claudia.

Além disso, o Hupp pretende promover o compartilhamento de ideias, soluções, desafios e ganhos tecnológicos, intelectuais, e econômicos dentro da economia compartilhada. O projeto é patrocinado pela Abrapp com administração da Conecta e apoio técnico da LM Ventures. Claudia destacou que a parte de vendas e interação com participantes e clientes é um ponto que precisa ser aprimorado dentro das entidades, além da parte de marketing e cobrança, pontos mapeados no planejamento de soluções do Hupp.

Magnus Arantes, Diretor da LM Ventures, explicou o conceito de economia compartilhada junto ao hub de inovação, a partir do compartilhamento de ideias. “Para o Hupp, a expectativa é que haja o compartilhamento de soluções que gerem impacto para o sistema, fazendo assim um esforço de identificar quais são os pontos que devem ser trabalhados dentro das entidades, podendo ter soluções para problemas já mapeados ou para questões que vão surgir ao longo do caminho”, destacou.

Inovação em investimentos – A inovação também passará a ser obrigatória na tomada de decisão sobre investimentos. Rodrigo Terni, Co-fundador e Co-CEO da Giant Steps Capital, destacou que a taxa de mortalidade dos fundos multimercados nos últimos 10 anos é de 60%, e essa taxa da indústria está aumentando, o que significa que todas as gestoras vão precisar, de alguma forma, inovar. Ele contou um pouco sobre as três etapas de investimento que toda gestora passa – pesquisa; tomada de decisão; e execução e gestão de riscos – e como a tecnologia é fundamental para aprimorar essas etapas. “É importante usar a tecnologia para executar o seu plano de investimento. E na parte de pesquisa, houve uma evolução da disponibilização da informação”.

Segundo Terni, é preciso receber cada vez mais informações processadas de maneira rápida e com dados de maior precisão para se tomar a decisão mais assertiva, e isso só é possível através da tecnologia. “Se você conseguir acessar big data, estará mais bem informado. Qualquer gestor precisa usar tecnologia para processar os dados e entregar a informação de forma tratada o mais rápido possível.

Tenri reforçou que a pesquisa é uma área que todo gestor precisa investir. “Todo gestor precisa de tecnologia, pois ele precisa estar bem informado. Na tomada de decisão e execução, a única coisa que traz velocidade é a tecnologia. Hoje, temos 30% das pessoas trabalhando em gestão, 10% em risco, 5% em compliance, 15% ena área comercial e 40% em operação. Em 10 anos, a perspectiva é que 80% do trabalho das gestoras seja focado em gestão, sendo dividido igualmente em pesquisa e tecnologia. Assim, o trabalho operacional reduzirá para 4%. Tempo de estrada, investimento em tecnologia e em equipe serão os principais diferenciais das gestoras daqui pra frente”, complementou Tenri.

Confira a cobertura completa do Encontro Regional Leste:

Os Encontros Regionais contam com o patrocínio de: Giant Steps Capital, Bradesco Asset Management, Pandhora, Rio Bravo, Santander Asset Management e Captalys. O evento tem o apoio da Mapfre Investimentos e da Franklin Templeton.

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